terça-feira, maio 19, 2009

TOMAS DE IRIARTE


Imagem: Female Nude and Pianist , c.1799-1800, do pintor do Rococó francês, Jean Honoré Fragonard (1732-1806)

OS POEMAS ERÓTICOS DE TOMÁS DE IRIARTE (1750-1791)

SONETO

Senhor D. João, quietinho, que me enfado:
Beijar a mão é muito atrevimento;
Abraçar-me.... isso não, que me apoquento.
Cosquinhas.... ai Joãozinho.... e o pecado?
Como são maus os homens... mas cudiado
Que me parece ouvir passos lá dentro....
Não é ninguém.... apressa o teu momento.
Ai que prazer... tão doce e regalado!
Jesus, sou uma louca, quem diria
Que com um homem eu... sendo cristã
Mas... que... de puro gozo... ai! Vida minha!
Quanta vergonha... vai-te... queres mais?
O que tiveste não te satisfaz?
Oh meu Joãozinho, voltas amanhã?

A UMA DAMA

Enquanto, suave, a primavera passa,
teu decote é zeloso, na abertura,
mas ao verão ardente, sem censura,
ele entremostra toda a tua graça!
Depois o outono chega e tudo embaça...
Então, vai se fechando, te enclausura,
e ao vir o duro inverno, com usura
ciumento, ao teu pescoço ele se enlaça.
Renego este tempinho madrilenho
de longo inverno e de tão longos xales...
(Sou ilhéu! meu protesto não contenho!)
Mas socorrer-me esta em tua mão:
mesmo em novembro, espero, me regales
com o presente de um dia de verão!

EPIGRAMA

A la abeja semejante,
para que cause placer,
el epigrama há de
ser/ pequeño, dulce y punzante

TOMAS DE IRIARTE – Tomás de Iriarte (1750-1791) nasceu em Orotava, Tenerife (a maior das ilhas Canárias) e morreu em Madri. Afeiçoado ao classicismo, exerceu muita influência nos meios literários madrilenos. Escreveu, em 1782, as engenhosas "Fábulas Literárias". Introduziu o "melodrama" na Espanha, com "Guzmán eI Bueno". Também compôs sinfonias e, em 1779, um grande "poema musical", a que deu o nome de "La Música". Sonetista de mavioso lirismo.

FONTES:
IRIARTE, Tomás de. Fábulas Literarias. Madrid: Cátedra, 1992.
PAES, José Paulo. Poesia erótica. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.



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