terça-feira, maio 12, 2009

CLEVANE PESSOA DE ARAUJO LOPES


Imagem: P&B, de Luiz Fernando Rodrigues Leite

OS POEMAS SENSUAIS DE CLEVANE PESSOA DE ARAUJO LOPES

THEORGASMIA

Desnuda parte do corpo, parte a alma
e oferece a Marte,o espelho de Vênus,
onde observa a arte dos seios plenos
bela,curiosa, intimorata e calma...
Em breve, dois deuses nus,
deu-se o fato, o olfato se aprofunda,
a vulva, a pélvis, a bunda.
o falo, o talo,a flor profunda.
Deus goza ,enquanto ,voyeur
de tempos imemoriais,
interpreta todos os sinais.
E o esperma divino banha o casal,
agora incapaz de distinguiir o Bem do Mal...

SUADA

A crochetar uma renda,
oferecer-me de prenda,
seda barroca bem trabalhada:
vestida de pêlo, de pele,nua,
acordo sozinha a uivar
no silêncio,o que insinua
esse olhar voraz de desejo
insistente que em mim sua,
- enquanto o espírito estua,
ao vento levanta o pó,
ardente, ardendo e só.

HOJE

E pela manhã,
o apelo da maçã,suas formas, bochechas
ancas e nágegas...
O jasmim- de- poeta´
que atrai, botão fechado,
pelo aroma imprevisto.
Depois,se abre estrelado,
para se desafazer no ciclo vital,
aos teus dedos,
o cheiro já mofificado:
pêssego, sândalo, patichuli,
o gosto já misturado:
cravo, rosa,almíscar e ambrosia.
Nem mais importa,
depois de aberta a porta,
se é gosto ou odor,
rubrica de um vinho precioso;
é apenas o resultado da mistura,,
da amorosidade que se fez embate
com as armas da paixão e da ternura...

ENCOSTA-TE A MIM

Venho de tempos idos e viajo para tempos novos.
Desço a encosta do desejo,
baqueada de sol quente, mas
inebriada pela luz de mel.
Suada,
exalo o cheiro aéreo das borboletas
que visitaram cravos.
Ah, voejei até mesmo em densas florestas
além do nosso jardim
-enquanto, guerreiro do cetro mágico,
guerreavas numa peleja
inútil e convencional, sem mim.
Eu,que agora vou ao teu encontro, para amparar-te,
sarar tuas feridas com minha seiva mágica.
Feiticeira, banhei-me
em pétalas de lírios, cravos e rosas
e minha pele inteira
tornou-se a tua cura.

Encosta-te a mim,
serei o totem onde os signais e os signos
revelarão as fórmulas da doce embriaguez amoROSA.
Mulher, ofereço-te meu graal.
Dentro de mim, alastra-se um fogo eternal,
no alabastro do corpo,mas a pele é morna.
Se tens fome,oferço-te a Poesia
de minha alma em pomar,
que alimenta
com maná e ambrosia.
Se tens sede,dar-te-ei meu leite.
minha saliva,meus humores.
Degusta-me.
Se queres dormir, transformarei
meus braços em rede.
Cantarei uma berceuse
inventada na hora da neblina.

Encosto-me a ti, quando te encostas a mim.
e juntos, seremos uma estela pela PAZ,
uma estrela a mais,
um círio na janela ,
chama votiva a tentar iluminar a harmonia
e simbolizar a quase impossível, mas real
perenidade dessa paixão
que não se acaba, que não desaba,
porque estamos um ao outro encostados
na encosta do desejo, apoiados
pelas costas um do outro.

Degusta-me e te ensinarei
a eternidade dos deuses...

ENCONTRO

A vinha, a vindima,o vinho
a gavinha
a garra...
Você vinha
com beijos de vinho,
boca de tinta
de vinho tinto.
Levinho, vinha,
conforme convinha
-dentro de meu coração cansado,
azinhavre.
Acre ácido
a corroer a emoção, o desejo guardado.
O colo fremente, mas não de paixão.
A camisola, levinha,
a uva,o vinho, a vinha,
o sonho, a sanha.
A gavinha partida.
A ida.
Des/encontros de verão.

UM DIA A MONTANHA FOI MAR

Os dedos do poeta que escreveram versos
em corpos marcados de poeira e amoras,
compensados pelo cheiro impossível dos impedimentos.
Molharam-se na maresia das praias desertas e jamais dantes
percorridas pelos os róseos pés aquecidos ao sol intenso...
Criaram ,com as suaves unhas, hieróglofos em forma de cunhas
para que quando as asas do tempo trouxessem viajantes do futuro,
e então aquele amor estranho e intenso de amantes
fornecesse matéria abstrata para o código abstrato,
os estudiosos se perguntassem se era plausível, possível,concebível,
que se amasse tanto assim, através dos dedos da alma,dos dedos das mãos
já antigas quando tudo começou e deixou signos e signais...
Mar, não existe nehum mar agora,e apenas atrevidas, erguem-se as montanhas,
as montanhas fartas ,verdes e sensuais das Minas Gerais,
que escondem nos seios e nas ancas , nos ventres misteriosos e grávidos,
tais segredos ancestrais...
E eu, que ao ler os versos do poeta, passo os lábios e encomprido os olhos sensuais,
quero ouvir sua voz, e pensar que foram escritos para mim, esses poemas embalsamados:
juro que têm gosto de sal e de algas, de sol e de estrelas -do -mar,
gostos de praias e peixes , os mesmos cheiros e sabores que ,por atavismo ,teimosos,
guardam-se na concha resguardada entre minhas pernas bambas,
a aguardar, séculos após, que desenhes novas letras e rimas no meu corpo
e que com tua língua antiga e sábia, o sal e o calor lambas,
em busca da pérola nacarada que resgatarás da leve espuma
para o prazer sutil e absoluto,para a riqueza acumulada em tempo de espera...
Na montanha , houve mar,em priscas eras, onde amaste outras mulheres
mas quem se guardou inteira para o equinócio da primavera
e preservou rosas esverdeadas e cheias de ondas, salgadas e perfumadas
fui eu, para teu gozo, musa de teu sonho, de tua luxúria, de tua im/paciência...
Por isso, leio tua Poesia magistral e catártica,plena de códigos
para mulheres de outrora
e acredito, entre ingênua e buliçosa,
que escreveste ,mesmo sem saber, todos os códigos da rosa,
para que eu a lesse e entendesse, decodificasse e repondesse, um dia...

EROTIQUINHA

Quando gozogozo,
bêbada do uso-ozo
com gosto de anis,
rito,arfo,fremente.
De mim mesma,corro.
Por um triz,não morro.
Eu,pequena bacia d'água.
Você,chafariz

MOMENTO (De Erotikinha,X)

No estômago, mil asas frementes
de beija-flores antecipam o néctar.
No útero, o lento que-fazer do pólen,
celera-se.
Ascendem ao coração as salamandras,
elementais do fogo.
Tudo teve início
com um olhar,que sinalizou um beijo.
E quando se acendeu a fogueira,na aquiescência,
os tecidos túmidos, os poros úmidos,
invadiu-nos a luminescência
que fez qualquer escuridão
se dissolver na luz.
E os murmúrios soprados ao pé da orelha rosada
ah, a sedução pelos ouvidos,
que escorrega qual líquido inflamável
e cai diretamente no coração,
a provocar um fogaréu...
E os gemidos,
o som contínuo e natural
que brota da garganta aberta em flor madura...
Movimentos contínuos,coleantes :
os corpos serpenteiam e se enroscam,
num milenar ritual.
Os suores, os aromas, a suculência...
A obnubilação para tudo mais que em torno exista:
somente o que é percepptível,é o tálamo
o sim,a entrega,a troca, a soma no soma,
invadir/ser invadido
com permissão.
A premissa
é o desejo,unicamente.
Pudores se esgarçam quais musselinas inúteis.
Todos os panos são barreiras que é preciso afastar.
E as mãos atrevidas,e os olhares,ora cerrados,
ora bem abertos, ora entrefechados.
O que quer, o que toma, o que cede.
Moto continuum,
as sucedências escorregam nas dobras do tempo.
O orgasmo.A petit-mort.
Enlanguescer,relaxar,suspirar,descansar.
Sob a Terra molhada
por chuva milagrosa,
as sementes crescem,incham,
forçam e brotarão em breve...
No silêncio agora absoluto,
enquanto as pessoas dormitam,
os anjos meneiam suavemente as asas,
para que descansem...

ACTO

Olhar desfocado
Lábio intercalado
(boca em completude
suores em açude,
saliva em fio/riacho escorre)
Peito infla
Coração rufla
Mamilo cresce
Adaga intumesce
Você, garfo, eu colher.
Gemo/arfo
Homem /mulher
Fusão
Con/fusão
Fuso horário
Da petit- mort:
Orgasmo
O gamo
A gazela
O hierogamus...
Os órgãos,
os grãos ocultos,
A produção
Dos micro organismos
Potencializados
Dizem Amém...

APAIXONADA/MENTE

Abraso-me,ardo e afogo-me em fogo liquefeito...
Onde andará o incendiário?
Será que usou a chama do meu ou do seu imaginário?
Arfo,sou-me fora de mim, fora de ti,
tição inutil sem lenha...
Chamo-te,
para que teu coração venha,
archote
acho-te,
a acender-me a pira
dedilhar-me a lira,
a buscar a agulha de pinheiro
que proteja
e não o espinho de roseira,
que fira...
Apaga-me!
Somente para depois reacender-me,
tornar-me luminária,
estacionária
essa paixão
perene...

NÚPCIAS CIGANAS

Um punhal ardente,argênteo pela claridade dos castiçais de latão,
ergue-se e agita-se, sonâmbulo, talvez, mas em busca
de caminho certo...Freme, pássaro, algo de beija flor e de cisne,
cegamente lança-se à umidade morna que o atrai,sem medo...
Num casamento cigano, consumado após as danças, o vinho,
as palmas, a espera dos demais,para que a mostra de sangue
seja a prova de uma virgindade exigida pelos costumes ancestrais...
Mas ...não sangra a noiva, ainda assim , até então,virgo inviolata, desiderata,
-ardendo de desejo, mas pura e ele o sabe... ...
O punhal de carne recolhe-se, grato pelos ricos sumos
e pela oferenda da estreita senda...descansa...
então, o homem,jovem apaixonado
e convicto da castidade de sua mulher
que o olha assustada com a falta do carmim
no branco lençol de linho ,levanta-se,corajoso, trêmulo ainda,
após o gozo,e toma de seu punhal de prata, finamente lavrado...
A jovem se assusta, mas não grita, deixa que caiam as lágrimas:
aceita o seu destino, o coração se confrange, depois galopa
no peito de pomba...fecha os olhos e espera...a morte,
pela falta de sorte...
Ontem, sua avó jogara cartas, a Buena Dicha:vida longa,vida feliz,
mas por certo se enganara, pensa desesperada...
O marido então,dá um corte no dedo anular, onde
a aliança brilha à luz das velas...e mancha os níveos panos:
a camisola, o lençol, a fralda de sua camisa...segura
o queixo da esposa-menina, e quando ela abre os olhos,
mostra-lhe o sangue a pingar, e deitado sobre os linhos, e lhe sorri...
Ela devolve, encantada ,o sorriso, sem falar nada
e ele murmura roucamente:"Confio em ti"...
Então beijam-se ardentemente e ele vai à porta da tenda,
a mostrar, belo, viril, mas secretamnte generoso.
a prova da "primeira vez"...Nunca mais falaram nisso,
mas também, jamais um marido teve uma esposa
tão amorosa e dedicada....

CALCINHAS

Depois de passar um bom tempo
escolhendo , com apaixonado olhar
a prever delírios, calcinhas rendadas,
vermelhas cavadas,
sensuais e sedosas,
depois perfumadas
com água de rosas,
percebo que parecem
uma bela borboleta
para cobrir a rosa
da espécie
"Príncipe Negro"
onde o vermelho
é muito escuro
e seu botão bem rosado...
Essa cobertura leve e ousada
vestida apenas para ser tirada
é uma estratégia feminina
para a guerra de "uns" e de " ais"
que acontece entre lençóis,
no tálamo...

PRIMEIRA VEZ

Na colheita de primícias,
a amora esmagada tinge
o níveo lençol de linho...
Um mundo, então de delícias,
todos sentidos atinge
através de um forte espinho...
Um aroma preenche o ar em torno
Os beijos, ora em pianíssimo,
ora vendavais a ser,
gosto de pêssego morno,
sumarento, gostosíssimo...
Então a dor vira prazer...

CLEVANE PESSOA DE ARAUJO LOPES é poeta, escritora, psicóloga, ilustradora, conferencista e consultora nordestina radicada em Minas Gerais, premiada em concursos nacionais e do do exterior. Trabalhou ativamente na imprensa de Juiz de Fora-MG, foi editora de Literatura e Arte do tablóide de vanguarda Urgente, dentre outros. Atualmente, é psicóloga, ilustradora e oficineira de Poesia e Conto. Tem quatro livros de poesias publicados, é consultora de teatro, revisora de textos e roteirista de peças teatrais. É Cônsul Zona Central de Belo Horizonte, da entidade Internacional “Poetas del Mundo”, integrante a REBRA - Rede Brasileira de Escritoras, é patrono da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores, pertence à Academia Virtual Brasileira de Letras. Ela reúne seus trabalhos no sitio Clevane Pessoa e no blog Erotíssima.

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