segunda-feira, maio 25, 2009

ROGEL SAMUEL



Imagem: Actaea, the Nymph of the Shore , c.1868, do pintor e escultor ingles do Romantismo Victoriano, Lord Frederic Leighton (1830-1896).

DOS 120 POEMAS & OUTROS VERSOS SENSUAIS DE ROGEL SAMUEL

NÃO ME QUEIRAS
que careço
demais para isso
Te quero
Bolero

GERALMENTE
me tens ao céu posto
caindo sobre a nave
do teu seio

EU TE PASSO
e passo
livremente
de cantar

A TUA NUDEZ TEM CURVAS
SUAVES
teus pelos, loura primavera
Não te conheço teu instante simples
mas vejo-te passar pela caçada
Te olho indiscreto e talvez
até me vejas o olhar
Não ouso assustar teus passos
que existe tal como te criei
Amo-te mais que te imagino
pois a felicidade é forma genuína
do que sou
Rei

ORIUNDA ONDA
onde queres
me levar?

O QUE ME ENCANTA É O BRINCO
de tuas conchas
a precisão de teus pelos
aneladas voltas
composto corpo
no salto alto do teclado claro

AS DOBRAS DO VESTIDO SE
ENGOLFARAM
e ouço passar águas profundas
passam passos
A voz procura, acionando em
torno grandes flores de vento
Assim não se sentirá o não
que se aproxima

SER É PAGAR
para amor
Ser é aval
Aliado
Pelo ser
amar amado

POR ISSO UM MINUTO APENAS
para o carinho leviano
teus apressados olhos estudantes
batendo instantes em que te
vejo rápido

MEU AMOR
tua loura magreza não me toca
que afagarei teus pelos
com o beijo primordial
Seguro a mão que tu seguras
daquele que me encontro fonte
fantasma lavado e céu.
Ó meu amor que se mistura
à carnadura do estro
às cores coxas do sensível
Ó meu portátil amor
que se oferece
na aparente umidescência
da paragem suburbana.

DEITARAM-SE NUAS

deitaram-se nuas
no meio da noite
as meninas virgens
deitaram-se nuas
as doces meninas
e ainda eram virgens
e os seus esposos
acenaram logo
com as mãos erguidas
e logo chegaram
no meio da noite
como que perdidos
deitaram-se nuas
todas as meninas
escondendo as graças
e os seus consortes logo as sucederam
e imprimiram o selo
estavam tão nuas
e eram mais puras
que longínqua estrela
e na amena noite
só fugiu o tempo
envolto num lenço
e depois de amor
daquele conúbio
choveram diamantes
o fecundo hino
daquelas meninas
musas citadinas
naquela noite toda
caem as flores finas
deusas fesceninas
e os seus amigos
inventaram lira
e os seus caprichos

NÃO POSSO RETER OS TEUS BRAÇOS

Não posso reter os teus traços
Nem as notas de teu tema
Pois tua música se desvanece
Como as vozes do poema
Da paixão, que mais um traço
Foi do azul de minha pena,
E quando eu te vir já será garço
O repique da tua cena
e o afastado abraço...
(oriunda onda a que cerca de aço
me levarão tuas algemas?)

BALADA PARA TODO AMOR

todo amor é assim, plágio
cópia de cópia de si, no mesmo
sim na sua visibilidade
no seu sexo. Porque todo amor
é aquela alegre repetição
doença de sonho e de tensão
acontecimento que tanto faz
se desfaz. De que não posso
dizer o que quero, ou o que vale
nem mesmo vale a pena
[O amor, seu troco.]
O caro, o espaço, o caroço
o que sobra o que falta e o falho.
Todo amor falece. Não cresce.
Não é o que se espera.
Dele nada sobra. Além do gozo.
Da calma, da cama, do colo
da palavra: só as notas altas
o cantam. As baladas mais.
A exultação mais plena.
Pois todo amor é outra vez
o mesmo amor. É sempre. É pouco.
E só se estabelece quando
impossivelmente fala a falta
do tolo amor, que já é lembrança
excessiva. Que todo amor costura
um tédio. E tem a surpresa da morte.
Somos suas presas em suas levezas.
Corre o fundo tempo por seus lodos
mostra a sua sede à noite morta.
Quem me crê sabe o que digo:
o amor já vem perdido, pois perder-se
é o destino amante. Dele vem logo
o mote o trote o corte a espada
que o amor tem em seus dentes
pois sua loucura é o nada.

ROGEL SAMUEL - Poeta, escritor, webjornalista, colunista de BLOCOS ONLINE, de ENTRE-TEXTOS, doutor em letras, professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Autor de: Crítica da Escrita, 1979; Manual de Teoria Literária, Editora Vozes, 14 edições; Literatura Básica, Editora Vozes, em 3 volumes, 1985; O que é Teolit? Editora Marco Zero, 1986; 120 Poemas, 1991; Novo manual de teoria literária, Editora Vozes, 4ª. Edição, 2007; o romance "O amante das amazonas", Editora Itatiaia 2a edição, 2005. Autor de centenas de artigos em revistas, jornais, vários romances publicados on-line. Veja a entrevista dele no Guia de Poeisa.

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