sexta-feira, dezembro 14, 2007
Imagem: Persian Woman with Painted Crosses, 1929 (Private Collection) do pintor e escultor do fauvismo francês, Henri Matisse (1869-1954).
SEDUÇÃO DA SERPENTE
Luiz Alberto Machado
Quando visitei os mundos de Gulliver
Percebi quão importante é o amor
E foi aí que você surgiu com seu jeito cadenciado e lento
Na minha direção
E tal qual Vênus hipnotizou
E com sua aproximação
Rastejou pelos cantos sob o meu assobio na noite
E seu prazer se animou no meu sangue quente
Depois de haver jiboiado no reino das suas pedras
E me prendeu com suas presas ocultas
E me atacou mortalmente com os seus guizos
Os guizos que quero roubar
Para curar meu quebranto
Para a viola amaciar o som
Logo eu que não tenho as favas-de-santo-inácio
Logo eu que sigo amante do Bastão-de-Asclépio
Fui rendido à sua língua que alcançou meu poço mais fundo
Se apoderou de mim com sua peçonha
E seu veneno me paralisou
E paralisado me devorou
Qual fertilidade, qual orixá avagã,
Oxumaré, arco-íris
Deus quetzacoalts dos astecas
Qual serpente emplumada
A sacra egípcia
Que por não ter mais idade é sempre sedutora
Cujo rabo branco quando não mata, aleija
Tão má de matar seu próprio filhote
Cuja espinha também carrega veneno
Cujo beijo me levou por mundos impossíveis
E à sua mercê, Raoom, minha boicorá
Vivo atado para sempre
Contaminado para sempre
Condenado a morrer de amor
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
Veja mais Crônica de amor por ela.