segunda-feira, dezembro 10, 2007
Imagem: The Broken Column, 1944 (Museo Dolores Olmedo Patino Mexico, Mexico City, Mexico) da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954).
“O amor é masoquista. Esses gritos, lamentos, doces sustos, esse estado de angústia dos amantes, esse estado de espera, esse sofrimento latente, subentendido, mal-e-mal expresso, essas mil inquietações acerca da ausência do seu amado, essa fuga do tempo, essas suscetibilidades, essas variações de humor, esses devaneios, essas criancices, essa tortura moral em que a vaidade e o amor-próprio estão em jogo, a honra, a educação, o pudor, esse fetichismo, essa precisão cruel dos sentidos que flagelam e vasculham, essa queda, essa prostração, essa abdicação, esse aviltamento, essa perda e retomada incessante da personalidade, esses gaguejos, essas palavras, essas frases, esse emprego do diminutivo, essa familiaridade, essas hesitações no tocar, esse estremecimento epiléptico, essas recaídas sucessivas e multiplicadas, essa paixão mais e mais tormentosa cujas devastações vão piorando até o completo bloqueio, o completo aniquilamento da alma, até a atonia dos sentidos, até o esgotamento da medula, ao vazio cerebral, destruição, mutilação, essa necessidade de efusão, adoração, misticismo, essa insatisfação que recorre à hiperirritabilidade das mucosas, aos desvarios do gosto, às desordens vaso-motrizes ou periféricas e que apela para o ciúme e a vingança, os crimes, as mentiras, as traições, essa idolatria, essa melancolia incurável, essa apatia, ess profunda miséria moral, essa dúvida definitiva e aflitiva, esse desespero, esses estigmas todos, acaso não são exatamente os sintomas do amor, segundo os quais é possível diagnostricar, e então traçar com segurança o quadro clinico do masoquismo? (...) O amor não tem outro objetivo e, sendo o amor a única motibação da natureza, a única lei do universo é o masoquismo. É destruição, nada, esse escoamento inesgotável dos seres; são sofrimentos, crueldades inúteis, essa diversidade das formas, essas adaptação lenta, penosa, ilógica, absurda da evolução dos seres. Quando se ama é preciso partir”. (Blaise Cendrars, Morravagin).
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