terça-feira, julho 27, 2010
A SERPENTE DE NELSON RODRIGUES
Imagem: The Family, 1917, do pintor do Expressionismo austríaco Egon Schiele (1890-1918)
A SERPENTE DE NELSON RODRIGUES
[...]
Décio – Não me provoque, Ligia!
Lígia – Acho gozadíssima sua insolência. Não se esqueça que nós estamos casados há um ano e que você.
Décio – Pára!
Ligia – Me procurou só três vezes. Ou não é?
Décio – Continua e espera o resto.
Ligia – Tres vezes você tentou o ato, o famoso ato. Sem consegui, ou minto?
(Décio avança para a mulher. Segura Ligia pelo pulso)
Décio – Cala essa boca.
Ligia (com esgar de choro) – Não, não!
Décio – Você não me conhece! Quietinha! Você me viu chorando a minha impotência. Mas eu sou também o homem que mata. Queres morrer? Agora?
(Décio esbofeteia)
Ligia (com voz estrangulada) – Não!
Décio – Olha pra mim, anda, olha!
(Pausa. Ligia olha)
Décio – Diz agora que és puta. Diz, que eu quero ouvir.
Ligia (lenta) – Sou uma prostituta.
Décio (trincando as palavras) – Eu não disse prostituta. Eu quero puta.
Ligia (soluçando) – Vou dizer. Sou uma puta.
(Décio solta)
Décio – Agora olha para mim e presta atenção. Se você fizer um comentário sobre a nossa intimidade sexual, seja com quem for. Teu pai, essa cretina da Guida, uma amiga, ou coisa que o valha, venho aqui e te dou seis tiros. E quando estiveres no chão, morta, ainda te piso a cara e ninguém reconhecerá a cara que eu pisei.
(Décio a esbofeteia. Ligia cai de joelhos com um fundo soluço. Décio apanha a mala).
Décio (num gesto largo) – Vai-te pra puta que te pariu!
(Décio sai).
FONTE:
RODRIGUES, Nelson. A serpente. In: Teatro completo de Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.
NELSON RODRIGUES: TEATRO COMPLETO – TRAGÉDIAS CARIOCAS II – Volume reunindo a obra de Nelson Rodrigues com diversos textos, entre eles, Toda nudez será castigada, A serpente, Otto Lara Resende ou Bonitinha mas ordinárias, O beijo no asfalto, Por que Otto Lara Resende, A cirandinha de Nelson por Ziembinski, Concepção geral do espetáculo de José Antonio Teodoro, Peça de Nelson no TBC de Décio de Almeida Prado, Toda Nudez será castigada de José Lino Grunewald, Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária de Hélio Pellegrini, O adeus de Nelson de Francisco Pedro de Coutto, Nelson nunca foi um intelectual de Paulo Francis, O coração imenso de um individualista de Oswaldo Peralva, Nelson de Carlos Heitor Cony, Caminhos e descaminhos de Tristão de Athayde, Toda Nudez será castigada de Adriano Garib, Sobre a Tragédia de Antonio Guedes, A serpente de Antonio Abujamra, O beijo no asfalto de Giano Ratto, A obra e o beijo no asfalto de Helio Pellegrino e O beijo no asfalto de Walmir Ayala.
NELSON RODRIGUES – O dramaturgo, jornalista e escritor Nelson Falcão Rodrigues nasceu em Recife (1912-1980) e escreveu dezessete peças teatrais. Sua edição completa abrange quatro volumes, divididos segundo critérios do crítico Sábato Magaldi, que agrupou as obras de acordo com suas características, dividindo-as em três grupos: Peças psicológicas, Peças míticas e Tragédias cariocas.
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