segunda-feira, julho 26, 2010

HELEIETH I. B. SAFFIOTI: O PODER DO MACHO




Imagem: Venus, Mars and Cupid , 1633, do pintor do Barro Italiano Guercino (Giovanni Francesco Barbieri - 1591-1666).

HELEIETH I. B. SAFFIOTI: O PODER DO MACHO

“Presume-se que, originalmente, o homem tenha dominado a mulher pela força física. [...] Rigorosamente, portanto, a menor força física da mulher em relação ao homem não deveria ser motivo de discriminação. [...] A força desta ideologia da inferioridade da mulher é tão grande que até as mulheres que trabalham na enxada, apresentando maior produtividade que os homens, admitem sua fraqueza. Estão de tal maneira imbuídas desta idéia de sua inferioridade, que se assumem como seres inferiores aos homens”.

“Do ponto de vista biológico, o organismo feminino é muito mais diferenciado que o masculino, estando já provada sua maior resistência. Tanto assim é que as mulheres, estatisticamente falando, vivem mais que os homens”.

“Do exposto pode-se facilmente concluir que a inferioridade feminina é exclusivamente social”.

“[...] Ter na companheira uma serviçal, sempre disposta a preparar-lhe as refeições, a lavar-lhe e passar-lhe as roupas, a buscar-lhe os chinelos, impede a troca, a reciprocidade. E é exatamente no dar e receber simultâneos que reside o prazer. As relações homem-mulher, na medida em que estão permeadas pelo poder do macho, negam enfaticamente o prazer. Esta negação do prazer, embora atinja mais profundamente a mulher, não deixa de afetar o homem. É necessário atentar para este fenômeno se, de fato, se deseja mudar a sociedade em uma direção que inclua melhores condições de realização tanto de homens quanto de mulheres”.

“[...] A mulher encarna ou a figura da dona-de-casa, fazendo publicidade de produtos de limpeza, alimentos, adornos, ou a figura da mulher objeto sexual, anunciando perfumes, roupas e jóias destinados a excitar os homens. Em qualquer dos casos – o da dona-de-casa e o da mulher objeto sexual – a mulher está obedecendo aos padrões estabelecidos pela sociedade brasileira. Ela pode ser a esposa legal, a namorada oficial, ou pode ser a outra, aquela que proporciona prazer ao homem, mas a quem é negado o direito de ser a mãe dos filhos deste homem [...] a mulher é sempre escolhida, não escolhe”.

“[...] a mulher é, muito mais que o homem, socializada para encarnar o papel de vítima. Este componente masoquista da educação feminina castra, pela base, as possibilidade de a mulher sentir prazer”

“Quando a maioria dos homens, que sofrem a dominação da minoria poderosa, descobrir que seus privilégios significam também limitações, constrangimentos, falta de liberdade, estará pronta a perceber como sociais os processos que lhe pareciam naturais. Tendo compreendido o processo social de construção da mulher e do negro enquanto categorias sociais discriminadas, a pessoa estará apta a desmistificar, a desmascarar a naturalização da inferioridade daqueles contingentes humanos. Se as discriminações são construções sociais, não fazem parte intrínseca da mulher e do negro. Se foram socialmente construídas, podem ser, também, socialmente destruídas, com vistas à instauração da verdadeira democracia. E esta constitui uma tarefa sobretudo de jovens, ainda que os mais velhos possam colaborar”.

FONTE:
SAFFIOTI, Heleieth. O poder do macho. São Paulo: Moderna, 1987.

HELEIETH SAFFIOTI – A professora, pesquisadora, Heleieth Saffioti é formada em Ciencias Sociais e Direito. É professora aposentada da UNESP e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP. Foi das primeiras feministas brasileiras a publicar livros e artigos sobre a condição das mulheres e seu nome é em si uma referência para a história do feminismo brasileiro.

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