segunda-feira, abril 13, 2009

RAYMUNDO ALVES DE SOUZA



Imagem: Catarina, de Jorge Pedra.

A POESIA DE RAYMUNDO ALVES DE SOUZA

PAIXÃO

És tão linda que encanta
Tens um olhar tão brilhante
Do rouxinol que canta
Lá no fim do horizonte.
É linda tua faceirice
No belo jeito de andar
Que provoca meiguice
Dá vontade de te amar.
O teu sorriso é um poema
Que o vate vive a cantar
Tens beleza tão serena
Que minh´alma fica a sonhar
A gente pensa que está
Gozando o teu carinho
E minh´alma fica a pensar
No peito, o teu ninho.

PINGO DE AMOR

Pinga um pouco de amor
Na taça do desejo,
Um pouquinho, minha flor,
Basta... só quero um beijo.
Vê eu estou te pedindo
Cansado de esperar,
É melhor pedir sorrindo
Do que zangado beijar.
De nada vale negar
Eu fico enfeitiçando
Andando pra lá e pra cá
Pra findar te beijando.
Noto no teu sorriso
Dois pecados se escondendo
Se não é um paraíso
É o amor que está fervendo.

GLORIA DE AMAR

Vem, vem, vem logo pra cá
Passar a noite sonhando
No quarto escuro, és luar,
Beijando e nos abraçando.
Aurora já clareando
Tu, no meu colo, eu no teu,
Longe o sol despontando
O medo de amar, já morreu.
Nos já perdemos o medo
Meu bem vamos passear
Nosso amor não é segredo
Amanhã nós vamos casar.
Vou tirar uma licença
Pra gozarmos lua-de-mel
Nela morreu a inocência
Só resta, amor, gloria e fé.

ENCICLOPEDIA DO AMOR

I

O amor de uns olhos
Que avistou os abrolhos
Quando olhava pro mar.
O amor de uns lábios
Que ainda sente os ressábios
Do beijo do amor
O amor da boca
Da pequena que é louca
Pra você ir beijá-la
O amor de um pescoço
Que nos lembra o esboço
Do corpo de Vênus

II

O amor de uns ombros
Que se vê com assombro
Enfeitando o colar.
O amor de um colo
Que traiu Apolo
Pra vir nele sonhar
O amor de uns seios
Que provoca anseios
Da gente beijar.
O amor de umas curvas
Que mente nos turva
E nos manda afagar.

III

O amor paraíso
O amor de um sorriso
Que nos faz delirar.
O amor esperança,
O amor que nos cansa
De tanto esperar.
O amor majestade
O amor castidade
O amor da moral.
O amor dos ribeiros
Correndo ligeiros
A procura do mar.

IV

O amor sem vaidade
Amor piedade
Que nos manda rezar.
O amor reação
O amor da ilusão
Do que já se sonhou.
O amor que fenece
O amor de uma prece
Ao pé do altar.
O amor dos passarinhos
O amor dos seus ninhos,
Seu berço e seu lar.

CURIOSIDADE

No colo da minha amada
Eu vi uma coisa mexendo
Era uma pulga danada
Mordendo os lindos seios.
Pedi pra pulga tirar
Ela ficou sorrindo
Não deixe ninguém me olhar,
Venha... a pulga está fugindo.
Nada mais lá encontrei
Mordendo o seu regaço
Apaixonado eu beijei
E suspirei nos seus braços.
Vi quando despertei
A minha flor suspirando
Novamente eu beijei
Ouvindo meu amor cantando.

PAIXÃO

Satisfazendo os anseios
Da paixão que me devora
Eu vou beijar-te, senhora.
Na curva destes teus seios.

DESEJO

Quem me dera fosse eu cego,
Pra seres tu minha guia,
Nunca mais dos olhos d´alma
A tua imagem saia.

GOSTO DE MEL

Nunca senti tanta fé
Nem uma ânsia tão louca
De sentir o gosto do mel
Do favo da tua boca.
Um dia, eu vou te agarrar
Um descuido aproveitando
Nos teus lábios vou ficar
A vida toda beijando.
Se me deres uma dentada
Eu também vou te morder
Fica a paixão empatada
Um beijo é quem vai vencer.
Não queres beijos e abraços:
Isto não te dar fervor?
Vamos perder um pedaço
Que tira o prazer do amor.

CONFISSÃO

Ao delegado do amor,
Meu delito confessei:
O crime do meu desejo,
Três sentenças ele ditou:
Dar mais de cinqüenta beijos
Todos com muito fervor!
Na mulher que sempre amei.
E não, fugir da prisão,
Se não, eu era enforcado.
Na corrente dos seus olhos,
Laço do seu coração,
E ali, ficar sempre amando,
Nas algemas do seu colo,
Grilhões da sua paixão
E nunca mais partir o laço
Da minha beça intenção
De viver no lindo regaço.
E de ser decapitado
Com a lâmina do seu olhar,
O punhal dos seus seios,
A navalha do seu sorriso,
O carrasco sendo os seus seios.
E ali ficar enterrado
Num eterno paraíso.

EU VOU ME CANDIDATAR,
VOU GORVERNAR TUA VIDA

Vou começando a falar
Com o som do teu sorriso,
Neste momento, preciso,
Eu vou me candidatar;
Vou no comício lutar,
Começar minha lida
Pra te vencer, oh querida
Escuta bem o que eu digo
Embora surja castigo
Vou governar tua vida.

EU VI UM COLO FORMOSO
QUE LHE ENFEITAVA O COLAR

Olhando malicioso
Lá num regato a brincar,
Convidando a versejar
Eu vi um colo formoso.
Qual será o venturoso
Beija-flor que vai beijar,
Fluir, sentir e sonhar
Nos seios, duplos assombros
Daqueles tão lindos ombros
Que lhe enfeitava o colar.

CANTIGA POPULAR

- Tive tias e sobrinhas
Mucamas e crias de casa,
Com todas eu fiquei vaza,
Todas foram fêmeas minhas.
Até as próprias vizinhas,
De mim tomaram barriga,
Ta você mesmo que diga,
Que foi meu alcoviteiro,
O seu pai foi meu meeiro
E sua mãe foi minha amiga.

COM MINHA ALMA ENLEIADA
DA ESSENCIA DO SEU PEITO

Numa noite enluarada
Olhando o belo luar
Fugiu pra eu não beijar
Com a ama enleiada
Mas, eu beijei minha amada
No seu amor fui eleito
Com o prazer satisfeito
Abracei só pra sentir
Aquele aroma subir
Da essência do seu peito.

LINDA, LINDA DE MORRER
PROVOCANDO DOCE ILUSÃO

Faz um amor renascer
Lindos lábios sorrindo
Sua bela voz se ouvindo
Linda, linda de morrer;
Obriga a gente a querer,
Na orquestra do coração
Do amor cantar a canção,
Das serenatas da vida,
Beijando a mulher querida
Provocando doce ilusão.

RAYMUNDO ALVES DE SOUZA – Nascido em Panelas, em 1884, viveu em Palmares onde morava sua avó e onde se formou artisticamente, destacando-se entre os poetas, escritores e artistas locais do passado. Foi aluno da mãe do poeta Ascenso Ferreira, foi pro seminário desistindo depois da ordenação, passando a trabalhar no barracão do Engenho Japaranduba, quando se torna mestre alfaite. Daí, colaborou com jornais e revistas pernambucanos e de outros estados. Tornou-se ator, casou-se, estreitou amizade com Ascenso Ferreira, casa-se de novo quando vai pro Recife, re-casou-se e vai se casando infinitamente, tornou-se vereador palmarense pelo PSD, fundando a Academia Palmarense de Letras. Em 1979, foi publicado o primeiro e único número do caderno cultural Nova Caiana, em Palmares, “Vida & Poesia de Raimundo Alves de Souza”, sob a coordenação editorial de Juhareiz Correya. Posteriormente seus poemas foram incluídos na antologia “Poetas dos Palmares”, edição de 1987. Em 1988 foi publicado pelas Edições Bagaço o livro “Celeiros d´alma – antologia poética”.

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