segunda-feira, maio 12, 2008
OS GRITOS ERÓTICOS DE JOYCE MANSOUR
Imagem: Colagem de Alexandro Puga, "Homenaje a Joyce Mansour"
OS GRITOS ERÓTICOS DE JOYCE MANSOUR
Febre teu sexo é um caranguejo
Febre os gatos mamam em tuas tetas verdes
Febre a rapidez do movimento de tuas ancas
A voracidade de tuas mucosas canibais
O abraço de teus tubos que estremecem que bradam
Despedaçam meus dedos de couro
Arrancam meus pistons
Febre esponja morta inchada de moleza
Minha boca breve ao longo de tua linha do horizonte
Viajante sem medo em um mar de frenesi
Que phallus tocará o sino
No dia em que dormirei sob uma tampa de chumbo
Derretida em meu medo
Como azeitona no frasco
Fará um frio metálico e feio
Não farei mais amor em uma banheira esmaltada
Não farei mais amor entre parênteses
Nem entre os lábios javaneses de uma grama de primavera
Exsurderarei a morte como uma umidade amante
Delimitada sitiada pelas visões de outubro
Encolherei-me enfim na lama
Eu quero dormir com você lado a lado
O nosso cabelo entrelaçado
Nossos sexos juntaram
Com sua boca de um travesseiro.
Eu quero dormir com você de volta para trás
Sem fôlego para participar nos
Não palavras para distrair-nos
Não olhos a mentir a nós
Com a roupa não.
Para dormir com você a mama mama
Tensa e sudorese
Brilhar com um milhar de tremores
Consumidos pela inércia extática das loucas
Esticada em sua sombra
Com as marteladas da sua língua
A morrer em um coelho da podridão dentes
Feliz.
O meu riso vai alto,
Mais alto que os chapéus dos cardeais
Mais alto que a esperança
Os meus seios riem quando o sol brilha,
Apesar dos meus fatos apesar do meu noivo.
Feia que sou, sou feliz.
Deus e os vampiros
Amam-me.
Me deixa te amar
Amo o gosto do teu sangue espesso
Por longo tempo o conservo em minha boca sem dentes
Seu ardor me incendeia a garganta
Amo o teu suor
Amo acariciar tuas axilas banhadas de alegria
Me deixa te amar
Me deixa lamber os teus olhos feichados
Me deixa furá-los com a minha língua pontuda
E lhes encher as órbitas com a minha saliva
Me deixa te cegar
Queres o meu ventre para te nutrires
Queres meus cabelos para te fartares
Queres meus rins meus seios minha cabeça raspada
Queres que eu morra lentamente lentamente
Que eu murmure morrendo palavras de criança
Quero me mostrar nua aos teus olhos cantantes
Que me venhas gritando de prazer
Que meus membros dobrados sob um excesso de peso
Te levem a atos ímpios
Que os cabelos lisos de minha cabeça oferta
Se embaracem nas tuas unhas recurvas de furor
Que permaneças de pé escequecido e crente
A contemplar lá de cima o meu corpo depenado.
As maquinações cegas de tuas mãos
Em meus seios trêmulos
Os lentos movimentos de tua língua paralisada
Em minhas orelhas patéticas
Toda minha beleza afogada em teus olhos sem pupilas
A morte em teu ventre comendo meu cérebro
Tudo isso faz de mim uma moça muito estranha.
Convide-me para passar a noite em sua boca
Conte-me sobre a jovialidade dos rios
Aperte minha língua contra seu olho de vidro
Dê-me sua perna como alento
E depois durmamos irmão de meu irmão
Pois nossos beijos morrem mais rápido que a noite
Não quero mais seu semblante de sábio
Que me sorri através das velas vazias da infância
Não quero mais as duras mãos da morte
Que me arrastam pelos pés nas brumas do
Espaço
Não quero mais olhos lânguidos que me entrelaçam
Crateras que cospem seus espermas frios de
Fantasmas
Em minha orelha
Não quero mais ouvir as vozes murmurantes das
Quimeras
Não quero mais blasfemar todas as noites de
Lua cheia
Toma-me como refém como círio como
Bebida
Não quero mais maquiar sua verdade
Eu faria o grand écart para lhe impressionar
Senhor
Quero partir sem bagagens para o céu
Meu desgosto asfixia-me porque a minha lingua é pura
Quero partir para longe das mulheres com mãos gordas
Que acariciam meus seios nus
E que cospem sua urina em minha sopa
Quero partir silenciosa à noite
Hibernar nas brumas do esquecimento
Penteada por um rato
Estapeada pelo vento
Tentando crer nas mentiras de meu amante
JOYCE MANSOUR (1928-1986) – poeta surrealista inglesa que viveu no Egito e em Paris, tornando-se poeta de expressão francesa em 1953 com sua obra “Gritos”. É autora de livros como “Rasgões”, “Rapaces”, “O azul dos fundos”, “Essencial”, entre outras publicações em prosa e poesia.
FONTE:
CÉSAR, Júlio. Uma história nociva. Lisboa: Hiena, 1987.
MISSIR´S, Marie-Laure Missir's Joyce Mansour: Une Etrange emoiselle. Paris: Place, 2005.
PAES, José Paulo. Poesia erótica em tradução.São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
PIERRE, José; SCHUSTER, Jean. Los arcanos mayores de la poesia surrealista y su exaltacion. Buenos Aires: Argonauta, 1992.
TORRE, Guillermo. História das literaturas de vanguarda. Lisboa/Santos: Presença/Martins Fontes, 1972.
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