terça-feira, janeiro 22, 2008



Imagem: da artista plástica pernambucana Cléa Barros.

AO REDOR DA PIRA ONDE QUEIMA O AMOR

III

O pacto do casulo na metamorfose mútua

Luiz Alberto Machado


Era devaneio demais na grande nuvem de Magalhães: abraço terno de paixão indomável.

Nossos corpos ardiam: faíscas na tempestade de nossos desejos. E mais as labaredas de nossas vontades inextinguíveis, de nossos frêmitos mais açodados, de nossas ardências na temperatura de ignição.

Era o enleio dos nossos sussurros mais selvagens por todo cardápio de nossas juras de amor mais exaltadas.

Era a terra prometida: seu ventre desejado.

Havia de fincar-lhe o estandarte rijo tomando posse definitiva de todo o seu território: domar aquela maravilha toda estirada perseguida pelo meu faro, acossada pelas minhas carícias no bote certeiro aprisionando seu corpo à minha sanha, sem se permitir rejeição ou o menor esboço da mínima reação contrária, até deixá-la completamente rendida.

Era chegada a hora: o prólogo de tudo ao toque da mão no pescoço, pele fina, jeito grácil, face linda, mandíbula, orelhas, cabelos, rosto, tudo um espetáculo! E em riste.

Um beijo ardorosamente apaixonado no seu ombro. Célere lambida no aclive da nuca. Lambuzada de ouvidos sob o aranzel insano do amor maior que todas as coisas existentes entre o firmamento e a terra. Até os lábios de céu apropriados, boca carnuda, língua fresca e solícita, todo despudor e provocação.

Eu crescia no beijo e me danava a crescer exaustivamente.

A iniciação buliçosa: copular. E mais atiçava provando da fúria insaciável.

Ah, como enlouquecia de prazer nos mínimos detalhes: o olhar, os seios cheios e admiráveis, o plexo solar, as entranhas pela alma, tudo na esporrada do privilégio de tê-la domada. A entrega, o oxigênio, as mesmas emoções, verdades e arrebatados gozos: órgãos, veias, nervos e músculos, tudo um só. E nossos corpos, um só na paixão desenfreada, lançados ao fogo de nossas vontades. Tão unos sem extremos nem limites. E ao mesmo tempo, no extremo de todos os limites, pois éramos os extremos dos extremos, o limite dos limites.

Amava e essa era a minha recompensa de escravo. E mais mergulhos na sua areia movediça, seus fulgores deslumbrantes, seu incêndio corporal que se propagava nas minhas loucuras e vísceras, dando azo à minha fantasia e disso tirando o máximo de proveito.

Ah, o seu cheiro do mais puro perfume búlgaro de rosas! Como eu me lançava na tocha acesa do seu olhar inebriante que ardia com o prazer de sua carne saborosa e fervia com a sede do seu comprazimento.

Ah, como eu delirava com o fogaréu envolvente de suas carências a levar-me cego e louco de tesão ao epicentro do seu terremoto corporal, e dando-me a possibilidade de explorar todas as formas do nosso concúbito incoercível. E mais desengançava. E mais zampava o seu insaciável talante, onde sei que repousa perspícua a nossa felicidade.

Ah, eu jamais poderia largar sua boca bem desenhada e seu corpo perfumado e provocante onde eu depositava a experiência de experimentar todas as maneiras de apego e afeto para usufruir intensamente da minha linga a jogar a larva tórrida derretida no seu yoni que abarcava o auge da atração dos nossos corpos rejuvenescidos prodigiosamente.

Ah, cada vez mais o gosto de sua intimidade na minha boca e, só de lembrar, a saliva abundante querendo matar a vontade de comer lautamente o alimento mais aprazível de degustação.

Ah, quanto prazer imenso privilegiando um mortal! A unificação prazenteira, sem se dar conta do futuro incerto, das possibilidades de existir e da maneira mais livre de amar.

Nossas cabeças nos ombros, um do outro, no centro da nossa felicidade perpétua: nós somos um, o pacto do casulo na metamorfose mútua do amor.

© Luiz Alberto Machado. Direitos Reservados.

CLEA BARROS é uma premiada artista plástica pernambucana, bacharelada em Pintura e Desenho pela Escola de Belas Artes – UFPE. Ela participou de diversas exposições individuais e coletivas, da Mostra Brasil-Portugal, na Europa.

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