terça-feira, novembro 02, 2010
LAURA AMÉLIA DAMOUS
Imagem: arte de Péricles Rocha.
O TRAJE DE LUZES – A POESIA REUNIDA DE LAURA AMÉLIA DAMOUS
EXERCICIO
Tuas mãos desenham
uma estranha geometria
curvas que se encontram retas
em direção a um equacionado desejo
RATOEIRA
Tremo em pensar
que a saída
vai dar em tua boca
OFERENDA
Venho te oferecer meu coração
como o cansaço se oferece aos amantes
o suor aos corpos exaustos
depois de definitivo abraço
Venho te oferecer meu coração
como a lua se oferece à noite
e o vento à tempestade
Venho te oferecer meu coração
como o peixe se oferece à captura
no engano do anzol
BREVISSIMA CANÇÃO DO AMOR CONSTANTE
Ferindo o tempo
Vestindo eternidade
O meu amor tranqüilo e mudo
Vive em ti
Tão leve e manso
Que tu não o sentes
Tu
JAZZ DO CORAÇÃO
Quando na tarde apareceste rindo
Julguei ouvir música
LIMITES
Latejas como sangue
Crescendo em rio
Mar
Marcando seus limites
No escavado leito
Dessa manhã
Que se fecha em luz
CURTO
Imenso
Longo curto circuito
A flor da nossa pele incendiou
RÁDIO
Só a força do querer
Me sintoniza nas curtíssimas ondas
Deste desejo em sol maior
Desafinado
AMANTE
Que o inverno não resseque
Nem o outono intimide
Teu florescer na primavera
Te quero fruto maduro
Presente em cada estação
OLFATO
Jaz em mim
Jasmim
(teu cheiro)
JULIETA
Agora, que só te posso ver quando
Adormeço
Penso, às vezes, te despedes de mim
Até nos sonhos
Ansiosa desse encontro busco o sono
Leve carícia na minha alma insone
Adormeço, de vez, eu te prometo
Se me asseguras um eterno encontro
ÂNFORA
Nem percebeste a leve brisa.
Eu
Que sou tormenta
Fúria e vento.
Só tu
Cabes em mim.
AUTÓPSIA
e ficou atestado que quando rasgaram
suas pálpebras
encontraram de por-de-sol e lua
lua minguante lua crescente
lua cheia
e estrelas
o precário e doído equilíbrio da vida
latejava no cérebro cansado
nas virilhas ainda quentes
o aconchego
e a calma do sexo apaziguado
Do sangue que escorria ente as veias
e artérias
um perfume de jasmim seco
No labirinto de nervos e entranhas
que não mais viviam
(fácil de ser visto)
TEU NOME
LAURA AMÉLIA DAMOUS – A poeta maranhense Laura Amélia Damous foi assessora cultural da SECMA, diretora do Teatro Arthur Azevedo e Secretária de Cultura do Estado até 1989. Escreveu a coluna literária Colunarte, participou de diversas antologias e movimento literários, foi incluída na antologia A poesia maranhense do Século XX, organizada por Assis Brasil (1994), e publicou os livros Brevissima canção do amor constante, em 1985, e “Arco do tempo, em 1987. Os poemas aqui reunidos são oriundos do livro Traje de Luzes – Poesia Reunida, editado em 1993 pela Sioge.
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