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Adão e Eva,do pintora art déco polaco Tamara de Lempicka (Maria Górska – 1898-1980)
AMOR
AMOR
- Para falar do amor é preciso, antes de tudo, falar
de Eros. Eros é o deus grego do amor, também conhecido como Cupido (Amor, em
latim). Apesar de sua excepcional beleza ser altamente valorizada pelos gregos,
seu culto tinha modesta importância. Na Beócia, um dos seus poucos locais de
culto, ele era venerado na forma de uma pedra comum, indicando sua conexão com
a origem do mundo. Depois, uma estátua esculpida por Praxiteles tomou o lugar
desta pedra.
As primeiras representações artísticas de Eros o mostram como um
belo jovem alado, com traços de menino, normalmente despido, e portando arco e
flecha. Eventualmente ele aparece nos mitos como um simples garoto brincalhão,
lançando suas flechas em deuses e humanos, enquanto gradualmente vai perdendo
seu status entre os deuses.
Na Teogonia, de Hesíodo, Eros era uma das quatro divindades
nomeadas como originais. As outras três eram o Caos, Gaia (a mãe-terra) e o
Tártaro (o poço negro sob a terra). Hesíodo diz "Aquele que é o amor, o mais belo entre os imortais, que tira a força
dos membros: aquele que, em todos os deuses, em todos os seres mortais,
sobrepuja a inteligência em seus peitos e todo os seus planos retalhados".
Hesíodo nada mais fala desse deus, e tampouco ele aparece em Homero.
Posteriormente, foi associado firmemente à Afrodite, como seu
filho, tendo como pai o deus Ares, aparecendo em diversas alegorias
mitológicas. Com o tempo ocorreu um favorecimento de sua representação na forma
plural dos Erotes (Eros, Pothos e Himeros) em lugar da sua forma única,
enquanto ele passava do ambiente mitológico para a esfera das artes. Entre os
gregos Himeros era a personificação divina do desejo, enquanto Pothos
representava a saudade. Como companheiros de Eros (o Amor), aparecem
frequentemente no séquito de Afrodite.
Psique
era a mais nova de três filhas de um rei de Mileto e era extremamente bela. Sua
beleza era tanta que pessoas de várias regiões iam admirá-la, assombrados,
rendendo-lhe homenagens que só eram devidas à própria Afrodite. E, de fato, os
altares da deusa começavam a esvaziar-se pois o povo negligenciava seu culto
para ir ver Psique. Profundamente ofendida e enciumada, Afrodite enviou seu
filho, Eros, para fazê-la apaixonar-se pelo homem mais feio e vil de toda a
terra. Porém, ao ver a beleza da jovem, Eros apaixonou-se profundamente por
ela. As irmãs de Psique facilmente encontraram maridos, pois também eram belas,
mas Psique permaneceu sozinha, pois apesar de ser admirada por todos, havia
despertado a ira de Afrodite. Seu pai suspeitou que inadvertidamente havia
ofendido os deuses, e resolveu consultar o oráculo de Apolo. Através desse
oráculo, o próprio Eros ordenou ao rei que enviasse sua filha ao topo de uma
solitária montanha, onde seria desposada por uma terrível serpente. A jovem
aterrorizada foi levada ao pé do monte e abandonada por seus pesarosos parentes
e amigos, sendo conduzida com os ritos de um funeral. Conformada com seu
destino, Psique foi tomada por um profundo sono, e a brisa gentil de Zéfiro a
conduziu através do ar a um lindo vale. Quando ela acordou, caminhou por entre
as flores do vale e chegou até um castelo magnífico. Notou que aquele castelo
deveria ser a morada de um deus, tal a perfeição que podia ver em cada um dos
seus detalhes. Tomou coragem e entrou no deslumbrante palácio, onde todos os
seus desejos eram satisfeitos por ajudantes invisíveis, dos quais só podia
ouvir a voz. Quando chegou a escuridão, foi conduzida pelos criados a um quarto
de dormir, e lá deitou-se, certa de que ali encontraria finalmente o seu
terrível esposo. Começou a tremer quando sentiu que alguém entrara no quarto,
mas uma voz maravilhosa a acalmou, e mãos humanas acariciaram seu corpo. Assim,
a esse amante misterioso, ela se entregou. Quando acordou, já havia chegado o
dia, e seu amante havia desaparecido. Porém essa mesma cena se repetiu por
diversas noites. Enquanto isso, suas irmãs continuavam a sua procura, mas seu
esposo misterioso a alertou para não responder aos seus chamados. Porém Psique
sentia-se solitária em seu castelo-prisão, e continuamente implorava ao seu
amante para deixá-la ver suas irmãs, e compartilhar com elas as maravilhas
daquele castelo. Ele finalmente aceitou, mas impôs a condição que, não
importando o que suas irmãs disessem, ela nunca tentaria conhecer sua
verdadeira identidade. Quando suas irmãs entraram no castelo e viram aquela
abundância de beleza e maravilhas, foram tomadas de inveja, e notando que o
esposo de Psique nunca aparecia, perguntaram maliciosamente sobre sua
identidade. Psique sempre respondia que ele estava atarefado, mas que era um
jovem muito belo. Suas irmãs retornaram para casa, mas a dúvida e a curiosidade
tomavam conta de seu ser, aguçadas pelos comentários de suas irmãs. Seu esposo
alertou-a que suas irmãs estavam tentando fazer com que ela olhasse seu rosto,
mas se assim ela fizesse, ela nunca mais o veria novamente. Além disso, ele
contou-lhe que ela estava grávida, e se ela conseguisse manter o segredo ele
seria divino, porém se ela falhasse, ele seria mortal. No entanto, concedeu a
ela o direito de receber novamente suas irmãs. Em resposta a suas questões,
Psique contou-lhes que estava grávida, e que sua criança seria de origem
divina. Suas irmãs ficaram ainda mais enciumadas com a situação de Psique, pois
além de todas aquelas riquezas, ela era a esposa de um lindo deus. Assim,
trataram de convencer a jovem a olhar a identidade do esposo, pois se ele
estava escondendo seu rosto era porque havia algo de errado com ele. Ele
realmente deveria ser uma horrível serpente e não um deus maravilhoso. Psique
ficou realmente assustada com o que suas irmãs disseram a ela, que quando suas
irmãs partiram, ela escondeu uma faca e uma lâmpada próximo a sua cama,
decidida a conhecer a identidade de seu marido, e se ele fosse realmente um
monstro terrível, matá-lo. Ela havia esquecido dos avisos de seu amante, de não
dar ouvidos a suas irmãs.
Quando
Eros chegou naquela noite, ele fez amor com ela como normalmente fazia, e
virou-se para descansar ao seu lado. Psique tomou coragem e aproximou a lâmpada
do rosto de seu marido, esperando ver uma horrenda criatura. O que viu porém
deixou-a maravilhada. Um jovem de extrema beleza estava repousando com tamanha
quietude e doçura que ela pensou em tirar a própria vida por haver dele
duvidado. Enfeitiçada por sua beleza, demorou-se admirando o deus alado. Não
percebeu que havia inclinado de tal maneira a lâmpada que uma gota de óleo quente caiu sobre o ombro direito de Eros, acordando-o. Eros olhou-a assustado,
e tentou voar através da janela do quarto. Psique inutilmente tentou agarrá-lo
pelas pernas, mas ele escapou. Quando se recompôs, notou que o lindo castelo a
sua volta desaparecera, e que se encontrava bem próxima da casa de seus pais.
Psique ficou inconsolável. Tentou suicidar-se atirando-se em um rio próximo,
mas suas águas a trouxeram gentilmente para sua margem. Foi então alertada por
Pan para esquecer o que se passou e procurar novamente ganhar o amor de Eros. Quando
suas irmãs souberam do acontecido, fingiram pesar, mas pensaram que talvez
agora ele escolhesse uma delas como esposa. Partiram então para o topo da
montanha na qual sua irmã havia sido deixada há muito tempo, e chamaram o vento
Zéfiro, para que as sustentasse no ar e as levasse até Eros, pois era assim que
sempre haviam alcançado o castelo de sua irmã. Zéfiro dessa vez não as ergueram
no céu, e elas caíram no despenhadeiro, morrendo. Psique continuava sua busca
por todos os lugares da terra, dia e noite, até que chegou a um templo no alto
de uma montanha.
Com
esperança de lá encontrar o amado, entrou no templo e viu uma grande bagunça de
grãos de trigo e cevada, ancinhos e foices espalhados por todo o recinto.
Convencida que não devia negligenciar o culto a nenhuma divindade, pôs-se a
arrumar aquela desordem, colocando cada coisa em seu lugar. Deméter, para quem
aquele templo era destinado, ficou profundamente grata por ver a jovem tão
ocupada em ordenar seu santuário. Afrodite a recebeu em seu templo com a raiva
estampada em sua fronte, e sabendo de como seu filho havia desobedecido suas
ordens por causa daquela jovem, e ainda, que agora ele se encontrava em um
leito, recuperando-se da ferida causada pelo óleo quente que fora derramado em
seu ombro, recusou-se a perdoar Psique. A deusa impôs, então, sobre ela uma
série de tarefas que deveria realizar, tarefas tão difíceis que poderiam causar
sua morte. Primeiramente, deveria, antes do anoitecer, separar uma grande quantidade
de grãos misturados de trigo, aveia, cevada, feijões e lentilhas. Psique ficou
assustada diante de tanto trabalho, porém uma formiga que estava próxima a
Psique ficou comovida com a tristeza da jovem e convocou seu exército a isolar
cada uma das qualidades de grão. No dia seguinte, Afrodite ordenou que fosse
até as margens de um rio onde ovelhas de lã dourada pastavam e trouxesse um
pouco da lã de cada carneiro. Psique estava disposta a cruzar o rio quando
ouviu um junco dizer que não atravessasse as águas do rio até que os carneiros
se pusessem a descansar sob o sol quente, quando ela poderia aproveitar e
cortar sua lã. De outro modo, seria atacada e morta pelos carneiros. Assim
feito, Psique esperou até o sol ficar bem alto no horizonte, atravessou o rio e
levou a Afrodite uma grande quantidade de lã dourada. Ainda não satisfeita,
Afrodite ordenou que ela fosse ao topo de uma alta montanha e trouxesse uma
jarra cheia com um pouco da água escura que jorrava de seu cume. Dentre os
perigos que Psique enfrentou, estava um dragão que guardava a fonte. Ela foi
ajudada nessa tarefa por uma grande águia, que voou baixo próximo a fonte e
encheu a jarra com a negra água. Afrodite ficou muito irada com o sucesso da
jovem, e planejou uma última, porém fatal, tarefa. Psique deveria descer ao
mundo inferior, o Hades, e pedir a Perséfone, que lhe desse um pouco de sua
própria beleza, que deveria guardar em uma caixa. Desesperada, subiu ao topo de
uma elevada torre e quis atirar-se, para assim poder alcançar o Hades. A torre
porém murmurou instruções de como entrar em uma particular caverna e através
dela descer aos Ínfernos. Ensinou ainda como driblar os diversos perigos da
jornada, como passar pelo cão Cérbero e recebeu uma moeda, para pagar a Caronte
pela travessia do Estige. Seguindo essas palavras, conseguiu chegar até
Perséfone, que estava sentada imponente em seu trono, e recebeu dela a caixa
com o precioso tesouro. Tomada porém pela curiosidade em seu retorno, abriu a
caixa para espiar, e ao invés de beleza havia apenas um sono terrível que dela
se apossou. Eros, curado de sua ferida, voou ao socorro de Psique, e conseguiu
colocar o sono novamente na caixa, assim salvando Psique. Lembrou novamente à
jovem que sua curiosidade havia novamente sido sua grande falta, mas que agora
podia apresentar-se à Afrodite e cumprir a tarefa. Enquanto isso, Eros foi ao
encontro de Zeus, e implorou a ele que apaziguasse Afrodite e ratificasse o seu
casamento com Psique. O grande deus ordenou que Hermes conduzisse a jovem à
assembléia dos deuses, e a ela foi oferecida uma taça de ambrosia. Então com
toda a cerimônia, Eros casou-se com Psique, e no devido tempo nasceu seu filho,
chamado Voluptas (Prazer). Assim é contada a história de Eros, o amor.
Para
os religiosos existem três tipo de amor: o amor do interesse material; o
amor da amizade; e o amor espiritual. Dessa forma, o amor Eros, é o amor de intimidade
do casal. Ele é tão importante no casamento, que Deus restaurou este amor na
vida de Abraão e Sara, tendo ele 100 anos, e ela 90 anos. Isaque era fruto do
amor, Eros na velhice.
O
amor phileo, é amor da amizade, do companheirismo do casal, cujo melhor amigo
da mulher após o casamento não é mais o pai, nem a sua mãe, e sim o seu esposo.
O melhor amigo do homem após o casamento é a sua esposa. este tipo de amor deve
ser desenvolvido dentro do casamento.
Já
o amor ágape, é amor produzido pelo Espírito santo na vida do casal.
Então,
para os religiosos o amor Eros pode falhar, o amor Phileo pode falhar, mas o
amor Ágape nunca falha. Eros, Phileo e Ágape, para os religiosos, são o alicerce do casamento.
No Taoísmo, milenar sistema filosófico, esotérico e religiosa da
China, amar é doação ativa, pois esse sentimento requer que se faça algo pela
pessoa amada, ao invés de ficar esperando passivamente satisfações. Os taoístas
manifestam espontaneamente o amor. Praticam o tzu, ou seja, a compaixão
amorosa, que é a ausência de julgamentos sobre si próprios, mas também ,com
relação ao ser amado. Segundo Cherman (1982:125), nos relacionamentos amorosos
taoístas, não se concentram atenções nas diferenças, pois que tal conduta
estimularia as críticas e os conflitos entre os cônjuges. Substituem a crítica
pela compreensão e a tolerância passiva, vez que amor e sexo não se separam
para os taoístas.
Para Fisher (1995) os ocidentais adoram o amor, que é simbolizado,
estudado, cultuado, idealizado, aplaudido, temido, vivido e que, por ele, se
morre. "(...) o amor significa muitas coisas para muitas pessoas. Mas se o
amor é comum a todas as pessoas em toda parte e associado às minúsculas
moléculas que residem nas terminações nervosas nos centros emocionais do
cérebro, então o amor é também primitivo”. (Fisher, 1995:192). Com esse
raciocínio, entende-se que esse sentimento de afeto é tão forte, tão
fundamental para a natureza humana, que ocorrem em todas as pessoas - seja
objeto do amor um membro do sexo oposto ou do mesmo sexo. Por exemplo, segundo
Fisher (1995), os cientistas sabem muito
pouco sobre as causas da homossexualidade, seja ela o amor entre dois homens ou
entre duas mulheres. Suspeita-se que tanto os hormônios quanto o ambiente têm
efeitos importantes sobre as preferencias sexuais no gênero humano e em outros
animais.
Considerando-se que os homens e as mulheres homossexuais se
apaixonam, muitos formam casais com seus parceiros, muitos se separam e muitos
se unem novamente. Para Fisher (1995:195), "Os homens e as mulheres homossexuais experimentam todas as mesmas
sensações do amor romântico que os heterossexuais declaram, e lutam com todos
os mesmos problemas deste sentimento romântico".
O amor e a arte, no tocante à sexualidade, constituem uma prática
que o Ocidente está pouco habituado a exercitar. Pratica-se o espontâneo, o
deixa ocorrer e até dá-se asas à imaginação e criatividade quando se está
amando. Mas ainda estão distantes da associação entre amor e arte.
O Kama Sutra, por exemplo, trata da arte do amor, tal qual o taoísmo,
vez que amor e sexo não se separam para os taoístas. O amor sem sexo retira a
paz e a serenidade do espírito. O sexo sem amor é puramente um ato biológico. No
Kama Sutra encontra-se que "A
verdadeira alegria de amar é um êxtase de dois corpos e almas misturando-se e
unindo-se em poesia. Ao encontrar a parceira ideal, o homem deve tentar e, na
verdade, fazer amor com ela de maneira extasiante e poética". Isso
levou Ryan & Ryan (1976:34), a considerar que "O amor procura libertar o outro, deixando-o viver e se desenvolver,
ajudando-o a realizar o direito de se tornar plenamente uma pessoa". Isso
quer dizer que se devemos aprender a amar uns aos outros como pessoas humanas,
cumpre-nos, por conseguinte, procurar superar todos os tipos de estereótipos, bem
como todos os modelos culturais e sociais que os inculcam, e esforçar-nos por
considerar cada indivíduo como uma pessoa que é homem ou mulher.
Na Bíblia está: "Não é
bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele".
(Genesis, 2,18). Disso, portanto, apreende-se que a sexualidade é,a força da
natureza humana destinada a suscitar a necessidade e a urgência que impulsiona
todo o ser a procurar se realizar na única direção capaz de satisfazê-lo: na
união e comunhão com o próximo. (Ryuan & Ryan, 1976).
Para Christoper Mooney (apud Ryan & Ryan, 1976:66/7): "(...)
o amor é a única força no mundo capaz de criar personalidade através de um
processo totalizador. Constitui, portanto, o estádio mais alto daquela energia
que Teilhard de Chardin denominava radial. Só ele une as criaturas humanas de
forma a completá-las e realizá-las, pois só ele fá-las atingir o mar profundo
de si mesmas”. Disso, cumpre reconhecer que todo amor é sexual, isto é, que
amamos como pessoas sexuadas, como homem ou mulher, e que nosso amor se
diferencia em cada uma das suas relações (Ryan & Ryan, 1976).
No Kama Sutra é encontrado as variedades do amor, onde homens
versados em humanidades são de parecer que o amor é de quatro espécies, a
saber: amor adquirido pelo hábito contínuo, os ligados às relações sexuais, à
bebida, ao jogo; o amor decorrente da imaginação, que são aqueles que certos
homens, mulheres e eunucos nutrem pela via oral, ou seja, a cópula bucal, ou,
ainda, o que outros têm a coisas como abraços, beijos, etc; o amor resultante
da convicção, é aquele reciproco, incontestavelmente verdadeiro, quando um olha
para o outro como se mirasse a si próprio; e o amor originado pela percepção de
objetos externos, que é bem evidente e conhecido, já que o prazer por ele
causado é superior ao prazer dos outros tipos de amor, que só existem para seu
complemento.
Já os cientistas conhecem a Feniletilamina, um dos mais simples
neurotransmissores, há cerca de 100 anos, mas só recentemente começaram a
associá-la ao sentimento de Amor. Ela é uma molécula natural semelhante à
anfetamina e suspeita-se que sua produção no cérebro possa ser desencadeada por
eventos tão simples como uma troca de olhares ou um aperto de mãos. O affair da feniletilamina com o amor teve
início com uma teoria proposta pelos médicos Donald F. Klein e Michael
Lebowitz, do Instituto Psiquiátrico Estadual de Nova Iorque. Eles sugeriram que
o cérebro de uma pessoa apaixonada continha grandes quantidades de
feniletilamina e que esta substância poderia responder, em grande parte, pelas
sensações e modificações fisiológicas que experimentamos quando estamos
apaixonados. A doutora Helen Fisher demonstrou que a inconstância, a exaltação,
a euforia, e a falta de sono e de apetite associam-se a altos níveis de dopamina
e norepinefrina, estimulantes naturais do cérebro. Alguns pesquisadores afirmam
que exalamos continuamente, pelos bilhões de poros na pele e até mesmo pelo
hálito, produtos químicos voláteis chamados Feromônios.
Atualmente, existem evidências intrigantes e controvertidas de que
os seres humanos podem se comunicar com sinais bioquímicos inconscientes. Os
que defendem a existência dos feromônios baseiam-se em evidências mostrando a
presença e a utilização de feromônios por espécies tão diversas como borboletas,
formigas, lobos, elefantes e pequenos símios. Os feromônios podem sinalizar
interesses sexuais, situações de perigo e outros. Os defensores da Teoria dos
Feromônios vão ainda mais longe: dizem que o "amor à primeira vista"
é a maior prova da existência destas substâncias controvertidas. Os feromônios
– atestam – produzem reações químicas que resultam em sensações prazerosas. À
medida em que vamos nos tornando dependentes, a cada ausência mais prolongada
nos dizemos "apaixonados" – a ansiedade da paixão, então, seria o
sintoma mais pertinente da Síndrome de Abstinência de Feromônios. Com ou sem feromônios, é
fato que a sensação de "amor à primeira vista" relaciona-se
significativamente a grandes quantidades de feniletilamina, dopamina e
norepinefrina no organismo.
Apesar de todas as pesquisas e descobertas, existe no ar uma
sensação de que a evolução, por algum motivo, modificou nossos genes permitindo
que o amor não-associado à procriação surgisse – calcula-se que isto se deu há
aproximadamente 10.000 anos. Os homens passaram realmente a amar as mulheres, e
algumas destas passaram a olhar os homens como algo mais além de máquinas de
proteção.
A despeito de todos os tubos de ensaio de sofisticados laboratórios
e reações químicas e moléculas citoplasmáticas, afinal, deve haver algo mais
entre o céu e a terra. Assim, o sexo é elemento integrante do amor, mesmo antes
de se falar de qualquer orientação incipiente ou atual para o amor conjugada ou
para a união sexual física. Ele é responsável pela variedade de matizes, de
calor e de urgência que especificam estas várias relações. Desempenha, por
conseguinte, uma tarefa positiva em todos os tipos de afeto, embora não
constitua o único conteúdo da relação afetiva.
O amor nasce com a afetividade que é a capacidade de sentir prazer
ou desprazer. Ao executar atos que nos dão prazer, assim como ter sensações com
o mesmo efeito, os circuitos nervosos envolvidos no processo incluem o centro
do prazer. A afetividade é que compele o animal a satisfazer o instinto. Assim,
o desejo sexual se manifesta por um impulso de integração. O impulso de
integração age no sentido de suprimir as barreiras entre dois que se atraem
sexualmente. O instinto sexual confere prazer aos atos correspondentes e torna
desprazerosa a sua privação. O interesse sexual básico é passível de acentuação
ou atenuação por conexões afetivas a experiência passadas. O desejo sexual
associado à convivência, comunhão de interesses instintivos, intenção de
continuidade, faz surgir o sentimento do amor mesmo antes de haver a posse.
Disso entende-se, portanto, que o amor é uma constelação afetiva, tendo raízes
em vários setores do instinto. O amor, como o desejo sexual, pode surgir entre
qualquer homem normal e qualquer mulher normal. É o interesse amoroso básico. Como
no caso do sexo, o amor pode surgir entre duas pessoas, quaisquer de sexo
oposto, desde que não haja um padrão amoroso negativo ou outros fatores que
impeçam uma de preencher as necessidades amorosas da outra.
Os padrões amorosos são os tipos característicos de pessoas que
anteriormente inspiraram amor além ou aquém do interesse amoroso básico. Ocorre
que no amor, como no sexo, experiências anteriores podem acentuar ou atenuar o
interesse amoroso básico. Ante pessoa completamente estranha pode alguém sentir
intenso amor, desde que ela tenha algo em comum, que lembre outra que já haja
inspirado, antes, não forçosamente desejo sexual, mas amizade, simpatia e
confiança. Assim se explicam os chamados amores à primeira vista. Na realidade,
a pessoa amada desta forma não é a que despertou o sentimento, atual, mas
aquela que anteriormente gerou o padrão amoroso.
O amor mais estável é o que surge naturalmente, de forma
progressiva, a partir de um desejo sexual. A partir do desejo sexual vem a
convivência, a confiança, o desejo de posse, de exclusividade, o amor não
aceita parceria, como acontece com o sexo, a comunhão de interesses, a
esperança de continuidade e duração, cultivando-se desta forma um sentimento
realmente vinculado a quem o inspirou e não a uma lembrança do passado.
A felicidade é um extraordinário bem que, além de outros
requisitos, se adquire com o equilíbrio do nosso sistema nervoso, o gozo da
saúde, o controle de nossas emoções e a prática de boas ações. A felicidade
consiste, sobretudo, na prática do amor na conquista da paz interior.
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