INCÓGNITA
Não sei se é noite, dia ou tarde. Eu só sei que arde. E com açoite faz
alarde na minha temperança. É que não descansa, bole e atordoa. Ah, que coisa
boa debaixo do chuveiro, quando sou seu ex-seresteiro e ela emerge dos confins
gerais, sensual demais com sua tropical altitude. E vem largando as virtudes na
sua nudez. Com completa mudez, tez luminescente, com seu corpo fervente pra me
incendiar. Eu me deixo levar por sua boca safada que se diz preparada toda para
mim. E se confessa assim com seu sexo molhado. E nele me farto aos bocados até
a raiz - do cóccix ao seu túmido veio,
pelo entremeio de sua entrega donairosa, seu cheiro de rosa, sua ebulição.
Faço na praça festa de peão, sou língua devassa de eterno freguês. E
vou pelo vale dos seus ipês, correndo a sua serra do paraíso, todo seu córrego
diviso com toda ganância. Eu bebo a sua fragrância com sede medonha, chega ela
sonha de olhos virados, gemendo recados de que vai me pegar. E vendo seu esgar,
mais me aproveito, sugando seu jeito inquieto a gozar. E a se esbaldar se
derrete bem louca, ela vulva inteira na minha boca, chega a gemer e gritar. E
me manda parar, depois diz que não, na sua alucinação nem sabe o que quer. Ela
é toda mulher que mais se demora com seu gosto de amora no meu paladar. Ela
quer mais se fartar e remexe agonia, se espremendo todinha, preu mais me ousar,
até alcançar sua intimidade mais escondida, que ela me entrega rendida para eu
me apossar.
Não sei se sou dono, ou desbravador, se sou o patrono, ou o seu feitor.
Sou só dominador da sua volúpia, só vou com argúcia asumir seu poder e todo seu
querer, sua identidade, destronar sua majestade e roubá-la de si.
No seu frenesi será dominada, submissa encantada que irá me servir. E
como um grão vizir, lavrarei minha lei pra que ela faça a grei e cumpra à
risca, minha servil odalisca, minha serva querida, minha fêmea homicida, minha
escrava cortesã, que me dispõe sua chã, sua carne e beleza, que se digna ser
presa para que dela eu me aposse, tomando total posse de tudo que é de seu.
E ao me dar o apogeu e todo seu trono, sua alma por abono e tudo que se
tem. E como me convém, ela fraqueja e ajoelha feito obediente ovelha, a me
adorar. E procura seu maná, meu membro saliente, seu moquém requerente que quer
abarcar. E a se lambuzar com minha seiva leitosa, a lamber tão jeitosa, chega a
me enlouquecer. Não pára de mexer, tenaz felatriz a sugar tão feliz meu mais
louco gozar. E não quer mais parar, feito faminta gulosa na minha pêia
preciosa, que me toma à mão como um frágil Sansão rendido ao prazer.
Ela mais manda ver e mais me explorar, até que eu chegue a esborrar
toda força da vida. E retoma as lambidas de forma inclemente como quem
inadimplente está pronta a pagar toda dívida que há, pra ser conivente que deve
sucubente de se ver eternamente na condição de me amar.