sábado, julho 16, 2011

SATYRICON DE PETRÔNIO



SATYRICON DE PETRÔNIO

[...] e enquanto discutíamos percebi entre duas tabelas de preços, e no meio de mulheres nuas, vários homens que se movimentavam furtivamente. Demasiado tarde, demasiado tarde realmente, compreendi a armadilha em que caíra: estava num prostíbulo.

[...] A digna proprietária desta casa, havia recebido, já, o preço de um quarto, e o velhor sátiro já me apalpava com mãos impudicas [...] Durante o relato de Ascilto, surgiu precisamente o tal velho, acompanhado de uma mulher: - Neste quarto – disse ele a Ascilto – o prazer te espera; cabe-te escolher o papel que desempenharas no combate. A jovem senhora, por seu turno, pedia-me também que a seguisse. A tentação nos venceu e, seguindo nossos guias, atravessamos várias salas, teatro lúbricos dos jogos da volúpia. A julga pelo furor dos combatentes, dir-se-ua que estavam embriados de satírio. Vendo nosso aspecto, eles repetiam posturas lascivas, para nos levar a imitá-los. De repente, um deles levantou as vestes até a cintura e, atirando-se sobre Ascilto, lançou-se sobre um leito próximo tentando violentá-lo.

[...] Asciltoingiu uma indignação que absolutamente não sentia, e, ameaçando-me com os braços, berrou ainda mais alto do que eu: - Ainda ousas falar, gladiador obsceno? Tu, covarde assassino de quem te hospeda, que só milagrosamente escapaste da morte na arena? Ousas falar, ladrão oturno, que, mesmo quando ainda não eras impoetnte, jamais possuíste uma mulher honesta! Tu que, num certo bosque, me usaste um dia como Ganimedes, para satisfazer tua lubricidade, do mesmo modo como hoje, aqui neste albergue, utilizas esse garoto!

[...] Era o amor que me fazia desejar tão ardentemente aquela separação. Há muito que eu tentava me livrar de tão importuna testemunha, para poder me dedicar sem reservas à minha paixão por Gitão. Ascilto, duramente atingido, saiu bruscamente, sem dizer uma palavra.

[...] Depois de havê-lo procurado em todos os quarteirões da cidade, voltei para casa e consolei-me nos braços de Gitão. Enlacei-o com os mais calorosos abraços. Minha felcidade, igual a meus desejos, era realmente digna de inveja. Prelidiavamos já novos prazeres, quando Ascilto, andando nas pontas dos pés, nos surpreendeu em meio ás mais ardentes caricias, e logo, enchendo nosso exíguo quarto com suas gargalhadas e aplausos, ergueu gravemente o lençou que nos cobria. – Ah! Ah! Mas que estais fazendo, homens de bem? Como? Metidos os dois sob a mesma coberta? Não satisfeito com seus sarcasmos, o miserável tirou seu cinto de couro e começou a espancar-me violentamente diendo com insolência: - Isto te ensinará, mais uma vê, a jamais romperes com Ascilto!

[...] Trifena era bela, agradou-me bastante e não se mostrou rebelde aos meus desígnios. Todavia, mal havíamos gozado os primeiros prazeres, quando Licas – alegando que eu lhe roubara a amante – exigiu que eu a substituísse junto a ele.

[...] Se Trifena se consumia por Gitão, este não lhe ficava atrás, e essa mutua paixão era um duplo tormento para mim. Enquanto isso, para me agradar, Licas inventava cada dia novos prazeres. Sua jovem esposa, a adorável Dóris, participando deles, embelezava-os, e seus encantos terminaram por me afastar Trifena de meu coração. Meus olhares confessaram a Dóris todo o meu amor, e os seus, ainda mais animados, prometaram-me uma doce recompensa. [...] – Usemos de astúcias: para possuíres Dóris, deixa que Licas te possua.

[...]

Amáveis impudicos, novos Ganimedes,
Cínicos audaciosos, voluptuosas Safos:
O prazer nos aproxima, amemos em liberdade,
Bebamos à volupia de todos os sentidos.

[...]

O homem nada mais é que um sopro
E a trama de seus anos é curta e frágil.
O tumulo segue nossos passos; cabe a nós,
Sabiamente, usar o prazer para embelezar,
O mais que pudermos, os nossos intantes.

[...] em minha casa, Baco é o pai da liberdae, pois acabo de libertá-lo.

[...]

As mulheres, as mulheres! Afinal, que são as mulheres? São verdadeiras aves de rapina. Fazer-lhe algum bem é o mesmo que atirar alguma coisa num poço. Uma antiga gratidão torna-se, para elas, uma prisão insuportável.

[...] Era essa mulher impudica que merecia ser lançada aos touros. Mas quando não se pode bater no asno, bate-se na albarda.

- Não há uma única mulher – declarou – por mais fiel que seja, que uma nova paixão não possa levar aos maiores excessos. Não é preciso, para provar o que eu digo, recorrer às antigas tragédias, citar nomes famosos nos séculos passados.

[...] O amor sobretudo, o impiedoso amor, jamais me poupou: amando ou sendo amado, sou sempre alvo de seus rigores.

SATYRICON DE PETRÔNIO – O escritor romano Petronius (Caius Petronius Árbiter 16 d.C. – 66 d.C ou Titus Petronius c. 27-66 d.C.) foi mestre em prosa e satirista notável, era um distinto freqüentador da corte de Nero e autor de um dos mais antigos romances, Satyricon. Essa obra foi escrita provavelmente por volta de 60 d.C, descrevendo as aventuras e desventuras do narrador, Encólpio, do seu amante Ascilto e do seu jovem servo Gitão. Trata-se de uma crítica aos costumes e à política da Roma antiga. A obra foi transformada em filme pelo cineasta italiano Federico Fellini



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