quarta-feira, julho 20, 2011

O EROTISMO DA NATUREZA NOS MEGÁLITOS DE ORENS



O EROTISMO DA NATUREZA NOS MEGÁLITOS DE ORENS

As fadas dos contos e lendas ocidentais são frequentemente associadas a construções megalíticas, como o são a sítio naturais, colinas, cascatas, florestas, etc. (variantes dialetais: fados, fades, fadas, fadettes). [...] É Johanneau que, num memorial à Academia Céltica (1810), conta a lenda do dólmen: Os camponeses desse cantão acrdditavam ainda, e me disseram seriamente, que foram três moças que construíram esse castelo em uma noite (daí, provavelmente, seu nome de castelo, de casa ou de gruta das fadas), que se morreria durante o ano se ele fosse destruído, que se as pedras fossem retiradas elas retornariam durante a noite.

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As fadas, no tempo em que viviam, honravam depois de sua morte os que viviam, feito, outrora, alguma coisa boa durante sua vida e construíam grutas indestrutíveis para colocar as cinzas, ao abrigo da malevolência e da destruição do tempo. Elas vinham, frequentemente, conversar com os mortos. E diz-se que sua influencia benfeitora espalhava na região um encanto indefinível, ao mesmo tempo que abundância e prosperidade... Desde muito tempo, as fadas, infelizmente, desapareceram, mas o monumento permaneceu. Nas noites, quando a brisa sopra ao lado de fora, ouvem-se, como que lamentações, na rocha-das-fadas, e diz-se que são os mortos que lá repousam, que chamam as fadas protetoras, e que seus lamentos se renovarão até que elas retornem. Há pouco tempo ainda, os jovens da região vinha à rocha-das-fadas para interrogar o destino. Nas noites de lua cheia, viam-se namorados contornar o dólmen, cada um num sentido, e contar as pedras. Se os números obtidos não fossem diferentes de mais ou de menos de dois, era um bom presságio: o casamento era para logo.

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O mágico Merlin, escreve Fernand Niel, transportou a Dança-dos-Gigantes que compõem as pedras de Stonehenge, da Irlanda para a planície de Salisbury. Um fantasma tinha-se domiciliado num dólmen de Noordsleen (Paises-Baixos). Saindo de noite de seu esconderiho o fantasma errava no campo, entregava-se a apavorantes brincaderias na colina vizinha. A avó dos diabos passeava, um dia, levando sobre a cabeça a mesa do dólmen Há-Heun (Coréia) e embaixo dos braços, os suportes. Achando a carga pesada demais, a diaba quis repousar. Colocou no chão as lajes que mantinha embaixo dos braços, e estas ficaram em pé, enquanto que, sentando-se, a laje que carregava na cabeça, colocou-se naturalmente sobre os suportes.

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É em Keloas, perto de Plouarzel, que se ergue o menir de Saint-Renan, o mais alto e, provavelmente, o mais notável de Finistère. [...] Os recém-casados, escreve em 1827, rendem-se devotadamente ao pé desse menir e, depois de se terem em parte despojado de suas vestimentas, a mulher de um lado, o esposo do outro, esfregam o ventre contra uma das saliências. O homem pretende, através dessa cerimônia ridícula, e a mulher pretende, assim, ter a vantagem de ser a dona absoluta da casa e governar inteiramente seu marido. [...] O menir de Moelan, que tem uma protuberância de um so lado, é objeto das mesmas praticas que o de Kerloas. [...] Os que conseguiam lançar uma moeda no cume do megálito eram assegurados de se casarem no mesmo ano. Perto de lá, o menor de Saint-Genit era objeto de práticas fálicas. [...] Até 1909 as jovens casadouras de Crozon vinham montar num menir tombado perto da gruta de Morgat. Essas práticas de escorregadelas com traseiro nu deviam ser freqüentes. [...] As jovens da região praticavam esse ritual sobre o menor de Locmariaquer na noite de primeiro de maio. Essas superstições eram, seguramente, muito mal vistas pela igreja que mandou suprimir, por isso, um certo número de megálitos. Foi o caso do menir de Saint Cado em Ploemel e do menir tombado de Kerbénes do qual Guánin nos diz que era da parte das mulheres e das jovens objeto de praticas tais, que foi destruído e serviu ao calçamento das estradas.Nos alinhamentos do Ménec, em Carnac, encontrava-se um menor chamado o navio que foi tombado e quebrado em 1815. Paul Sébilot, na sua obra Folklore de France, conta que esse megálito dava lugar a uma estranha dança ritual ainda praticada no fim do ultimo século. Nas noites de lua cheia, os casais vinham dançar completamente nus em torno do menir. O homem perseguia a mulher enquanto os pais dos esposos faziam a ronda vindo de um outro menir chamado muito corretamente a sentinela. A mulher, supondo-se curada de sua esterelidade, acabava por render-se ao marido.

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Nesses lugares desenrolavam-se ritos pagãos, no decorrer da noite que precedia a festa do perdão local, no mês de agosto. Os homens banhavam-se inteiramente nus na fonte, pois acreditavam que sua água curava os reumatismos. Torneios de luta bretã ocorriam, interrompidos por danças e fortes libações. As mulheres deviam esperar o nascer do dia para irem banhar-se na água sagrada, de um modo um pouco menos frívolo que o dos homens.

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Satã leva o baile a Saint-Briac-sur-Mer, em Ille-et-Vilaine. No cume do outeiro-Girault erguia-se um dólmen que hoje coroa o calvário de cruz-dos-marinheiros. Jovens, conta a lenda, vinham dançar em volta do megálito. O clero, considerando essas rondas como ocasiões de pecado, está na origem da lenda que diz que, uma noite, Satã veio misturar-se aos dançarinos. O diabo seduziu uma jovem pouco selvagem e levou-a com ele. Foi preciso a intervenção do padre armado com seu hissope para fazer Satã fugir sob o efeito da água benta. Mas o diabo agarrou-se desesperadamente pedras do dólmen e suas garras lá escavaram as cupulazinhas curiosas que lá se encontram ainda hoje. [...] Uma noite que, como de costume, rapaes e moças dançavam entre as pedras, Satã misturou-se ao baile. Ao primeiro canto do galo, a terra abriu-se. No meio dos gritos e das chamas, os dançarinos foram devorados pelo inferno... Bela alegoria para renunciar a dança como fonte de pecado e alimentadora do inferno. Na landa de Moulin, perto de Langon, em Ille-et-Vilaine, cerca de 30 menires têm o nome de demoiselles: parece que são moças que preferiram ir dançar na landa a ouvir a missa. Para puni-las, Deus petrificou-as. Dançava-se, aparentemente sem perigo, nas noite de São João em volta do dólmen de La Roque-Belan, em Guernesey. Não jovens pecadores, mas fadas em Chateau-la-Valiére, Indre-et-Loire, onde estas últimas vem dançar toda noite em volta do menir.

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Alguns estudiosos de hoje, escreve Denis Roche, admitem que o menir simbilizava o duplo aspecto da sexualidae: ele teria sido macho, por sua ereção para o céu (relacionando-se com os mitos do fogo/raio/pedras de raio), e fêmea por estar afundado na terra (relacionando-se com a água, o que, por sinal, não é muito claro). Visto que alguns menires estariam encarregados mais particularmente de poderes masculinos, em dado momento de sua antropomorfização, poder-se-ia logicamente supor que as outras pedras teriam recebido uma grande concentração de encargos femininos. Aliás, alguns antropólogos admitem que certos menires com caneluras verticais – por oposição ao sulco bálano-prepucial do fato masculino – seriam falos femininos: assim como o raio de Goulien em Beuzec. Os estudiosos, conclui mais adiante o autor, diem que talvez deva-se considerar o falicismo apenas como um momento dentre todas as fases de evolução da pedra erguida primitiva, apenas um aspecto da antopomorfização ritual das forças elementares naturais (sol, raio, fecundidade, etc).

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A mais celebre dessas figuras é a de Saint-Sernin em Aveyron. Esse ídolo feminino é esculpido sobre dois lados de uma laje de arenito vermelho de 1,20m de altura, 70 centimetros de largura e 20 centímetros de espessura. [...] O corpo deste ser sobrenatural é cintado por uma tanga. Os membros são faixas lisas, chapadas sobre o corpo e que findam em cinco espécies de franjas (os dedos dos pés e das mãos). [...] Cetamente trata-se da grande deusa neolítica associada aos ritos da fecindade, espécie de Deméter pré-histórica considerada como força nutritiva benfeitora da humanidade agrícola.



FONTE:
ORENS, Marc. A civilização dos megálitos. Rio de Janeiro: Ferni, 1977.

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