quinta-feira, março 12, 2009
LÍRIA PORTO
Imagem: Helena ou Eva?, foto de Marcus Steinmeyer
OS DELICIOSOS VERSOS SENSUAIS DE LÍRIA PORTO
PARELHA
aberta a janela
penetra-se nas trevas
estrelas se fazem
e nus nesse oásis
quedamo-nos
entre as frestas
o caldo da entrega
sal do amor
a morte
hora incerta
deu-nos a deus
corpos inocentes
roupas largadas
montanhas
pegadas
suor
LA BELLA DONNA
seus olhos são noites
seu cheiro manhãs
são tardes seu colo
seu sexo agoras
seus seios auroras
o tempo advoga
a seu favor
O SEMINARISTA
afunda no decote
margeia os mamilos
escorre pelas bordas
desvia pros quadris
desce até as coxas
retorna ao umbigo
enquanto a prima dorme
cheirosa igual canela
biquini cor-de-rosa
virgem por triz
(IN)DE.CISÃO
todos os dias
ao amanhecer
jogo-te ao vento
tomo a decisão
de te esquecer
depois eu me lembro
do teu riso do teu beijo
sinto um arrepio
e me arremesso
ARRASTÃO
teus olhos são rede
o mar é amor
eu - peixe
ÂNGELA
a moça de alma albina
quer ser puta não consegue
fica nua vai pra esquina
quando um homem se aproxima
lua não tem sexo
FLUIDOS
tornei-me assim liquefeita
quando daquela feita
despi-me de nãos e sins
de mim então me perdi
nesta vontade inconclusa
acumulada no rim
ficou a mágoa comigo
fincada dentro do umbigo
um imenso chafariz
minha tristeza de chuva
essa amargura profusa
tem olhos túmidos
sou tal e qual um dilúvio
derramo transbordo enxurro
sangro os pulsos
CÓCEGAS
tuas águas me embalançam
como o mar e o navio
rio
DELTA
entre os joelhos e a virilha
uma ilha de renda a esconder a gruta
de mato dentro
TESÃO
cheiro de arroz cor de leite
salpicado com canela
gosto de cravo pau de canela
um doce manjar dos deuses
para todos os prazeres
para dar água na boca
sentir vontade e voltar
arroz doce com canela
nesta vida passageira
esperarei por cem anos
mais que isso se preciso
retornarás bem cremoso
cheiro de arroz cor de leite
gosto de cravo pau de canela
AL DENTE
saia curtinha
blusinha verde
e o vegetariano
não desgruda os olhos
da sua carne tenra
OBLÍQUA
quando a cama fica imensa
atravesso-a de ponta a ponta
desassossegos pelo meio
insônias no viés
DESMILAGRE
eu te abismo
tu me abismas
e em queda livre
precipitamo-nos
o fundo
era previsível
a superfície
nem santo
DI_AMANTE
eu te quero sol de todo dia
e só vens na lua cheia
a bola de neve do meu medo
(não sou a amada sou o pouso o oásis)
te traz na primavera do ano bissexto
assusta-me à distância
o cometa halley
SEM PÉS NEM CABEÇA
ali
no ponto gê
a tomada elétrica
deixa guiomar
de pernas pro ar
MAGO
alguém que me queira como sou
que me pegue e me esfregue
até que eu veja o gênio
da lâmpada
DE TODAS AS FÓRMULAS
fazes-me falta
em todas as fases
faltas-me
LADAINHA
faço verso rastejante
igual cobra no papel
faço verso flutuante
passarinho lá no céu
faço verso comprimido
fechado dentro do frasco
faço verso assim ridículo
acostumado ao fiasco
faço verso bem florido
nascido em pleno setembro
faço verso esquecido
o jeito dele nem lembro
faço verso galopante
como visita de amante
faço verso des'tamanho
coração de minha mãe
faço verso
faço verso
faço verso
CUNHÃ
parece uma flor de palha
a moça que me atrapalha
sem cheiro e sem encantos
no entanto igual arraia
enreda em sua saia
o dono dos meus quebrantos
O CABAÇO
penso aqui com os borbotões
estou cheia de senões
se fossem abotoados
os pingolins dos meninos
ia ser um desatino
desarrolhar os coitados
acho mesmo houve engano
nas meninas muito pano
os rapazes sem cortina
triste é a nossa sina
um selo de validade
desde a mais tenra idade
LÍDER
peito para frente
bunda para trás
e o batalhão atrás
CONQUISTA
a pele da piscina
arrepia-se
com as tuas braçadas
DIABA
nem mais bonita rica ou inteligente
queria tão somente ser o seu tipo
a mulher que ele escolhesse sem titubeio
sem avaliar os prós os contras
a que tivesse a medida
o exato tanto
entre puta e santa
LIRIA PORTO – A poeta e professora mineira Liria Porto tem vários de seus excelentes poemas publicados em diversas páginas, revistas, sites e portais da web. Ela edita o blog Tanto Mar e Putas Resolutas.
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