segunda-feira, março 09, 2009

GOETHE



Imagem: Female nude reclining on a divan, do pintor do Romantismo frances, Eugene Delacroix (1798-1863)

EPIGRAMAS DE JOHANN WOLFGANG VON GOETHE (1749-1832)

Não te queres deitar nua ao meu lado, bem-amada;
Por vergonha te escondes de mim em tuas vestes.
Diz-me, o que cobiço? A tua roupa ou o teu corpo?
vergonha: uma roupa que os amantes jogam fora,

Quanto tempo procurei uma mulher; só achava putas.
Finalmente te apanhei, putinha: aí tive uma mulher.

Dá-me, em vez de Schwanz, uma outra palavra, Priapo,
Pois que, poeta, estou mal servido em alemão.
Chamam-me phallos em grego, o que soa bem ao ouvido
E a mentula latina é palavra tolerável.
Mentula vem de mens, Schwanz tem a ver com traseirom
Onde nunca senti alegria nem prazer.

Não vos irrite, mulheres, admiramos as moças:
Gozais de noite o que elas de dia excitam.

Gosto de rapazes, mas muito mais de moças:
Satisfaço a moça, e ela me serve de rapaz.

Meu maior cuidado: Betina se faz cada dia mais destra,
Mais e mais ágeis se tornam seus braços, suas pernas,
Consegue até levar a linguinha à sua graciosa greta
E com ela brincar: já não lhe importam muito os homens.

A FELICIDADE DA AUSÊNCIA

Suga, ó jovem,
o sagrado néctar da flor ao longo do dia,
nos olhos da amada.
Mas, sempre esta dita é melhor que nada,
estando afastado do objeto do amor.
Em parte alguma esquecê-la posso,
mas se à mesa sentar-me tranqüilo
com espírito alegre e em toda liberdade
e o impereptível engano que faz venerar o amor
e converte em ilusão o desejo.

JOHANN WOLFGANG VON GOETHE – O poeta, dramaturgo, romancista e ensaísta alemão Johann Wolfgang Von Goethe (1749-1832), desenvolveu vasta obra literária, autobiográfica, de estudos de ciências naturais e conversações, sendo considerado com unanimidade como a maior personalidade da literatura alemã e o maior poeta alemão. Ele envolveu-se em aventuras amorosas e escreveu poesias anacreônticas, à moda da época, chegando a proclamar sua divina mãe Devi Kundalini, a Serpente Ígnea de nossos mágicos poderes, como autêntica libertadora. Incontestavelmente, nas relações amorosas mais conhecidas de Goethe, excluindo-se, naturalmente, a sustentada com Cristina Vulpius - foram, sem exceção alguma, de natureza mais erótica que sexual, como as de Carlota Buff, Lili ou Frederica Brion e a senhora Von Stein, chegando a escrever a sua mais forte a paixão não esquecida por Charlotte, tema do romance Die Leiden des jungen Werther (1774; Os sofrimentos do jovem Werther). Já com Charlotte von Stein, uma mulher altamente sofisticada, inspiraram-lhe nova série de poesias líricas. ”Erotica Romana” é o título da primeira versão manuscrita das consagradas “Elegias Romanas” de Johann Wolfgang von Goethe, resultante da sua estadia em Itália (1786-1788), embora maioritariamente composto após o seu retorno, este ciclo de poemas eróticos sofreu numerosas alterações, atendendo à tolerância de um público que apenas admitia a expressão literária do prazer sensual através da máscara da mitologia ou da imitação dos poetas clássicos da antiguidade. Com isso, observa-se que Goethe arrastava consigo rumores de inúmeras aventuras amorosas com várias mulheres e, mais concretamente, trazia consigo Catherine Vulpius com quem passou a viver, sem com ela se casar. Foi imbuído do espírito libertino e liberal que escrever poemas eróticos.

FONTES:
BARRENTO, João (Org.). Literatura e sociedade burguesa na Alemanha (séculos XVIII e XIX). Lisboa: Apáginastantas, 1983.
BROCA, Brito. A viagem maravilhosa de Goethe. In: ___. Ensaios da mão canhestra. São Paulo: Polis / Brasília: INL, 1981.
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CAMPOS, Haroldo de. Deus e o diabo no Fausto de Goethe. São Paulo: Perspectiva, 1981.
CARPEAUX, Otto Maria. Presença de Goethe. In: ___. A cinza do purgatório; Ensaios. Casa do estudante Brasileiro, 1942.
GOETHE, Wolfgang. Os sofrimentos do jovem Werther. São Paulo: Nova Alexandria, 1999.
_____. Epigramas. Revista Versoados. Disponivel em Acesso em 08.03.2009.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Fausto. In: ___. O espírito e a letra. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
MAAS, Wilma Patrícia Dinardo. Poesia e verdade, de Goethe - a estetização da existência. Cerrados. Brasília (UnB), v. 9, p. 165-177.
MONTEZ, Luiz Barros. A obra autobiográfica de Goethe como relato historiográfico. Itinerários (UNESP), v. 23, p. 39-48, 2005.
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___. Sobre o mito do Goethe. Forum Deutsch - Revista Brasileira de Estudos Germânicos, Faculdade de Letras da UFRJ, v. 6, p. 88-102, 2002.
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ORLANDI, Enzo. Goethe. Lisboa: Editorial Verbo, 1972.
PAES, José Paulo. Poesia erótica. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

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