segunda-feira, junho 30, 2008

RUBENS DA CUNHA



Imagem: Armand Lluent

O POEMERÓTICO DE RUBENS DA CUNHA

OS FAZIMENTOS DO AMOR

Antes que se faça o amor,
o corpo se condiz no vazio.
Não tanto o corpo, mais o tato
em fúria, em vício de espera.
O crime inusitado de corroer-se
às margens da vontade:
cristo ressurrecto no ventre.
O amor antes de feito
não conduz azuis celestes.
Quer rubrar-se totem ávido.
Quer enegrecer clarividências.
Curta frieza de vento,
o amor no fazer-se furta febres,
desvia pulsos e pensamento.
Se não estilhaça a carne,
pelo menos des-memória
o mármore de cada poro.
Ateu de invisíveis tropos,
o amor desfaz-se em vértebra.
Desfeito, cambaleia tênue
por sobre o quase infarto
do sânscrito silêncio.
Vadio de destroços,
artéria-se em migalhas.
Ao quedar-se humano,
O amor, deus-feito, morre.

DESGOVERNO

Eros corrói-me
Não o desejo sangue dos menores
ou o ventre púrpuro dos grandes
Eros corrói-me ácido na seda
enchente nos jardins
fogo nos eucaliptos
Aos poucos
aos pormenores da dor
Eros desgoverna o que necessito de ar

A NUDEZ

a nudez
não serve ao calabouço
dos entregues
a nudez
se neblina e some
sumo no livro sagrado
a nudez
serva serena da vergonha
se disfarça em organza
e desaparece - defunta vestida - entre árvores e silêncio

INDEZ

no homem
porvir sangue
na mulher
escora de culpa e sabedoria
escorrem pernas
escadam desejos
antes do antes
quando os corpos
indefiniam-se nas florestas
Deus era nudez
mais
indez guiando instintos

A PELE

a pele
debaixo dos pés
sombreia cascalhos
ventania tudo
que crispa a vida
a pele
debaixo das mãos
saboreia confins
amoras
pureza
a pele
debaixo do olho
fosforeia a noite
vermelha da agonia
o corpo todopele salga-se salva-se tato e lume

ILHA

teu corpo
azul em névoa
ilha
porto
naufrágo que sou
voltei a respirar Deus

amor
nódoa sobre madressilvas

nítido escombro
preenche orifícios
com ventanias
linhos espermas
líquidas tumescências
cânfora vermelha
amor
palavra de foder a carne pasma

Sou mulher de apelos frágeis,
pêlos fáceis,
fêmea e banho.
Sou mulher de ontem.
Nos dedos: um resto de sêmen.
Nos ouvidos: um rastro de adeus.

RUBENS DA CUNHA – catarinense de Joinvile, o poeta e escritor Rubens da Cunha é acadêmico de Letras e integrante do grupo de poetas Zaragata que publicou a antologia poética Cordames & Cordoalhas. Ele também é vice-presidente da AJOLE. É autor dos livros “Campo Avesso”, “Casa de Paragens” e do excelente “Aço e nada”. Publica crônicas semanais no jornal A Noticia e edita o blog “Casa de paragens”.

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