A
GÁLIA E OS GAULESES – O povo gaulês era da tribo celta, considerado bárbaro,
seminômades e politeístas que apareceu no período entre os séculos IX e VII
a.C., oriundos de agrupamentos que se espalharam pelo continente europeu,
compreendendo a região onde se situa atualmente a França, a Bélgica e a Itália.
Na época existia as Gálias Narbonense e Comata, onde estavam os avernos, os
heudos e os belgas.
A
MULHER GAULESA - A mulher gaulesa era mãe fecunda
e excelente amamentadora, totalmente curvada à vontade de seu marido, além de
ser dotada de virtudes que lhe engrandecem a alma. As mulheres e crianças acompanhavam os homens ao campo de batalha em
época de guerra. Elas incitavam e sustentavam os
combatentes, tornando-se, ao mesmo tempo, pessoas ternas e heroicas. As mulheres gaulesas não são somente iguais aos homens em tamanho, mas
elas também a eles se igualam em força física. Sob o comando romano de Gnaeus Manlius, era comum que centuriões
capturassem diversas mulheres gálatas para divertirem-se após as lutas,
estuprando-as e utilizando-as como prisioneiras ou até mesmo escravas. Exemplos de mulheres
gaulesas extraordinárias são Eponina, a escrava Blandine, Chiomara e a rainha
Boudica.
EPONINA – Eponina, a Langrense,
participou pessoalmente na revolta travada contra Roma por seu marido, Julio
Sabino, e, após a derrota deste, dividiu a seu lado, durante nove anos, a vida
de fora da lei, pondo no mundo e criando duas crianças dentro de uma caverna e
depois, não tendo podido dobrar o imperador Vespasiano, caminhando para o
suplicio, de cabeça erguida, ao lado do esposo.
BLANDINE – Blandine era uma jovem
escrava que foi amarrada e suspendida num poste para ser devorada pelas feras
lançadas contra ela. Ela pregada na cruz, orou em voz alta, enquanto as feras
não quiseram tocá-la. Desamarrada do poste, ela foi levada de volta à prisão e
reservada para um outro combate. No último dia dos combates singulares,
tornaram a levar Balndine com Ponticus, adolescente de uns quinze anos, para
ver o suplicio dos outros, e eram pressionados a juras pelos ídolos. Eles continuaram
firmes e não fizeram nenhum caso dessas instancias. A multidão também se tornou
furiosa contra eles, a ponto de não ter nem piedade devida à idade da criança
nem o respeito devido ao sexo da mulher. Fizeram-nos passar por todas as
torturas e eles percorreram todo o ciclo de suplícios. Alternadamente quiseram
forçá-los a jurar, mas em vão. Ponticus era animado por sua irmã, de modo que
os próprios gentios viam que era ela quem lhe dava coragem e firmeza. Depois de
ter suportado todos os tormentos com constância, ele entregou sua alma. Restava
a vem-aventurada Blandine, a última de todos, como uma nobre mãe que acaba de
incentivar seus filhos e enviá-los vitoriosos diante do rei. Ela mesma percorre
novamente toda sequencia de seus martírios e se apressa em direção a eles,
cheia de alegria e de contentamento nessa partida. Parecia ter sido convidada
para um banquete de núpcias e não jogada às feras. Após os chicotes, após as
feras, após a brasa, acabaram por prendê-la numa rede e ela foi apresentada a
um torro. Por bastante tempo foi arremessada pelo animal, mas não experimentou
nenhum sentimento a respeito do que lhe acontecia, por causa de sua esperança,
de sua afeição aos bens da fé e de suas conversas com Cristo. Por fim, ela
também foi imolada, e os gentios confessaram que jamais, entre eles, uma mulher
havia suportado tão numerosos e tão duros tormentos.
CHIOMARA
- Segundo o grego Plutarco, era esposa de Ortiagon, chefe dos Tolistobogii, de
linhagem nobre e importante e viveu na Galácia durante a época de subjugo dos
gálatas a Roma, no século II. Ela estava entre as mulheres capturadas pelos
centuriões de Gnaeus Manlius que foi estuprada e sequestrada por um deles,
sendo negociada, quando ela comandou seus homens que atacaram o centurião,
matando-o: Ela pegou a cabeça, enrolou-a em seu casaco e voltou para sua casa.
Quando retornou ao seu marido, ela jogou a cabeça aos pés dele. Ortiagon estava
espantado e disse: “Mulher, uma coisa boa é boa fé”. “Sim” ela respondeu “uma
coisa melhor ainda é que somente um homem que tenha cruzado o meu caminho
permaneça vivo”. Ela possuía inteligência e espírito indomáveis.
A
RAINHA BOUDICA – Também conhecida por Boadicea, rainha dos Icenos, era casada
com Prasutagus, famoso por suas riquezas e propriedades. Quando este morre, ele
deixa como seus herdeiros as suas duas filhas e o imperador de Roma, pensando
que com este último ato ele garantiria a segurança de seu reino e de sua
família. O que acaba acontecendo é justamente o inverso: os romanos não aceitam
as filhas de Prasutagus como legítimas para o trono e empreendem assassinatos e
mortes no território dos icenos, destruindo terras, humilhando os senhores
locais e até mesmo tratando os parentes do antigo rei como escravos. As duas
filhas do rei são violentamente humilhadas através de estupros e a própria
rainha Boudicca é torturada e castigada com chicotadas. Os icenos então se
juntam sob a autoridade da rainha e se rebelam contra os romanos com o auxílio de
algumas outras tribos. Os rebeldes, aproveitando-se da campanha do governador
local, Suetonius Paulinus, em Gales, atacaram e destruíram Camulodunum,
Verulamium e Londinium. É a própria Boudicca que também toma toda a liderança e decisões
militares, comandando a rebelião, Boudicca montou em sua carruagem com suas
filhas ao seu lado e passou em frente a todo o exército, incitando todos para
lutarem pela última vitória: “Não é estranho para os britânicos serem liderados por uma mulher na
guerra. Mas eu luto não como uma rainha de linhagem gloriosa para restituir meu
reinado e poder, mas como uma simples mulher de um povo que perdeu sua
liberdade como um escravo e viu suas filhas violadas em frente a seus olhos. Mas é isso que eu enquanto uma mulher desejo – que eles (os romanos) vivam para eles mesmos serem
escravos”.
DEUSAS GAULESAS , GÁLICAS OU CELTA-LATINA, OU GALO-ROMANA – Na mitologia encontram-se
diversas deusas, entre elas Cibele, bem como as Matres e
Matronas.
CIBELE
– deusa mãe dos deuses, deusa-mãe simbolizando a fertilidade da natureza. Ela tornou-se uma divindade do ciclo de
vida-morte-renascimento ligada à ressureição do filho e amante Átis. Era
representada, frequentemente, com uma coroa de muralhas, que simboliza o seu
poder militar como protetora e, ao mesmo tempo, arrasadora de cidades, com leões por
perto ou num carro puxado por esses animais e uma cornucópia, o corno (chifre) da abundância, referente a fertilidade e riqueza.
Era chamada por Sófocles como a Mãe de Tudo. Cibele era a deusa dos mortos, da
fertilidade, da vida selvagem, da agricultura e da Caçada Mística. É hoje representada
como uma mulher madura, coroada de flores e espigas de cereais. Também vestida
com uma túnica multicolorida e carregando um molho de chaves na mão. De acordo
com a lenda, Cibele se apaixonou por Attis. Mas ele a traiu e sem perdão, a
deusa o castigou deixando-o louco. Em uma de suas loucuras, Attis mutilou a si
próprio sangrando até morrer. No entanto, Cibele ficou condoída com sua morte e
resolveu transformá-lo num pinheiro e de seu sangue nasceram violetas. O culto de Cibele, chamada
Mãe dos Deuses ou a Grande Mãe, estendeu-se das montanhas da Ásia Menor a todo
o mundo grego e depois transbordou sobre o mundo romano, a ponto de fazer com
que o Senado se decidisse a construir-lhe um templo sobre o Palatino. Este culto
tomou relevo particular na Gália, ele teve seu centro em Syon mas se estendeu
por todo o território. Ela encarnava a Terra Mãe, velha divindade cuja origem
está cravada na pré-história e seu culto tinha seu colégio religioso, seus
sacerdotes especiais, que lembravam muito a casta dos druidas.
ABNOBA
– Abnoba, conhecida também como Devana, Dziewona, Dianae Abnobae, Danu ou
Abnoba Caçadora, era a deusa da floresta negra, bem como do parto e dos rios,
foi cultuada pelos celtas e romanos.
ANA
– Deusa-mãe gaulesa, representando a mãe das deidades celtas e ao mesmo tempo a
mãe dos seres humanos. É, também, a santa patrona do país celta da Bretanha.
BRIGIT
– A deusa das estações do ano celebrada em fevereiro como dia do Imbolc, grande
festa de purificação. Deusa tríplice venerada pelos poetas, ferreiros e
médicos. Irmã do deus Oengus, divindade do amor.
EPONA
– Deusa da fertilidade. Cavaleira ou amazona representada montada sobre um
cavalo, diadema na cabeça. Seus atributos eram a cornucópia, uma pátera e
frutos. Presidia, também, à fecundidade do solo, fertilizado pelas águas. Sãos
as protetoras dos cavalos, burros e mulas.
Além destas encontram-se ainda,
Ancamna, deusa
galo-romana celebrada como a consorte de Marte Lenus, protetora tribal Ancasta, deusa cultuada na Britânia romana; Andrasta, deusa
guerreira e também conhecida como rainha Budica, esposa do deus da guerra
romano; e Ardunnna ou Arduina, deusa de Ardennes ou deusa gaulesa da lua, da
caça e da justiça. Já as Matres e Matronas são deidades femininas veneradas e representadas em grupos de três, em
regiões da Germânia, da Gália Oriental e da Itália superior.
AS
CELEBRAÇÕES GÁLATAS, GÁLICAS OU GAULESAS – Ao contrário dos povos da
antiguidade que já construíam grandes templos religiosos, os gauleses
realizavam suas celebrações em altares nas florestas, comandados pelos druidas
que serviam de conselheiros, médicos e juízes.
O DIADEMA DE VIX – Numa sala
funerária repousava o corpo de uma jovem mulher, com o busto elevado e ornada
por um admirável diadema de ouro com peso de 480 gramas de metal fino de 24
quilates. Uma das partes que compõem o
diadema envolve a cabeça sensivelmente semicircular, cujas extremidades
representam patas de leão prendendo bolas ornamentadas por desenhos geométricos
muito variados e de execução extremamente delicada. No interior da curvatura , atrás
das patas de leão, o artista colocou um pequeno cavalo alado, um Pégaso. A morta
havia sido enterrada em seus mais belos adornos e enfeitada com suas joias. No pescoço
estava pendurado um colar de pérolas âmbar, de diorito e de serpentina. Cada pulso
estava enfeitado com uma pulseira de perolas âmbar, enfiadas numa estreita
lamina de bronze e três braceletes de xisto, uma argola de bronze circundando
cada tornozelo. Na altura da bacia do esqueleto jazia um colar de metal gaulês em
bronze enrolado, enfeitado com uma correia de couro enrolada em espiral.
REFERÊNCIAS
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Claudia. A Religião na Urbs. In MENDES, Norma Musco; SILVA, Gilvan da Ventura
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EYDOUX, Henry-Paul. A
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OLIVIERI, Filipo. O papel dos
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PEIXOTO,
Pedro Vieira. A relação entre Roma e os celtas: um estudo inicial a partir dos
relatos sobre as mulheres celtas. Revista eletrônica de Antiguidade, Ano II –
Número IV, 2009.
Veja sobre a História da Mulher na Antiguidade.