domingo, janeiro 06, 2013

A MULHER GAULESA



A GÁLIA E OS GAULESES – O povo gaulês era da tribo celta, considerado bárbaro, seminômades e politeístas que apareceu no período entre os séculos IX e VII a.C., oriundos de agrupamentos que se espalharam pelo continente europeu, compreendendo a região onde se situa atualmente a França, a Bélgica e a Itália. Na época existia as Gálias Narbonense e Comata, onde estavam os avernos, os heudos e os belgas.

A MULHER GAULESA - A mulher gaulesa era mãe fecunda e excelente amamentadora, totalmente curvada à vontade de seu marido, além de ser dotada de virtudes que lhe engrandecem a alma. As mulheres e crianças acompanhavam os homens ao campo de batalha em época de guerra. Elas incitavam e sustentavam os combatentes, tornando-se, ao mesmo tempo, pessoas ternas e heroicas. As mulheres gaulesas não são somente iguais aos homens em tamanho, mas elas também a eles se igualam em força física. Sob o comando romano de Gnaeus Manlius, era comum que centuriões capturassem diversas mulheres gálatas para divertirem-se após as lutas, estuprando-as e utilizando-as como prisioneiras ou até mesmo escravas. Exemplos de mulheres gaulesas extraordinárias são Eponina, a escrava Blandine, Chiomara e a rainha Boudica.

EPONINA – Eponina, a Langrense, participou pessoalmente na revolta travada contra Roma por seu marido, Julio Sabino, e, após a derrota deste, dividiu a seu lado, durante nove anos, a vida de fora da lei, pondo no mundo e criando duas crianças dentro de uma caverna e depois, não tendo podido dobrar o imperador Vespasiano, caminhando para o suplicio, de cabeça erguida, ao lado do esposo.

BLANDINE – Blandine era uma jovem escrava que foi amarrada e suspendida num poste para ser devorada pelas feras lançadas contra ela. Ela pregada na cruz, orou em voz alta, enquanto as feras não quiseram tocá-la. Desamarrada do poste, ela foi levada de volta à prisão e reservada para um outro combate. No último dia dos combates singulares, tornaram a levar Balndine com Ponticus, adolescente de uns quinze anos, para ver o suplicio dos outros, e eram pressionados a juras pelos ídolos. Eles continuaram firmes e não fizeram nenhum caso dessas instancias. A multidão também se tornou furiosa contra eles, a ponto de não ter nem piedade devida à idade da criança nem o respeito devido ao sexo da mulher. Fizeram-nos passar por todas as torturas e eles percorreram todo o ciclo de suplícios. Alternadamente quiseram forçá-los a jurar, mas em vão. Ponticus era animado por sua irmã, de modo que os próprios gentios viam que era ela quem lhe dava coragem e firmeza. Depois de ter suportado todos os tormentos com constância, ele entregou sua alma. Restava a vem-aventurada Blandine, a última de todos, como uma nobre mãe que acaba de incentivar seus filhos e enviá-los vitoriosos diante do rei. Ela mesma percorre novamente toda sequencia de seus martírios e se apressa em direção a eles, cheia de alegria e de contentamento nessa partida. Parecia ter sido convidada para um banquete de núpcias e não jogada às feras. Após os chicotes, após as feras, após a brasa, acabaram por prendê-la numa rede e ela foi apresentada a um torro. Por bastante tempo foi arremessada pelo animal, mas não experimentou nenhum sentimento a respeito do que lhe acontecia, por causa de sua esperança, de sua afeição aos bens da fé e de suas conversas com Cristo. Por fim, ela também foi imolada, e os gentios confessaram que jamais, entre eles, uma mulher havia suportado tão numerosos e tão duros tormentos.

CHIOMARA - Segundo o grego Plutarco, era esposa de Ortiagon, chefe dos Tolistobogii, de linhagem nobre e importante e viveu na Galácia durante a época de subjugo dos gálatas a Roma, no século II. Ela estava entre as mulheres capturadas pelos centuriões de Gnaeus Manlius que foi estuprada e sequestrada por um deles, sendo negociada, quando ela comandou seus homens que atacaram o centurião, matando-o: Ela pegou a cabeça, enrolou-a em seu casaco e voltou para sua casa. Quando retornou ao seu marido, ela jogou a cabeça aos pés dele. Ortiagon estava espantado e disse: “Mulher, uma coisa boa é boa fé”. “Sim” ela respondeu “uma coisa melhor ainda é que somente um homem que tenha cruzado o meu caminho permaneça vivo”. Ela possuía inteligência e espírito indomáveis.

A RAINHA BOUDICA – Também conhecida por Boadicea, rainha dos Icenos, era casada com Prasutagus, famoso por suas riquezas e propriedades. Quando este morre, ele deixa como seus herdeiros as suas duas filhas e o imperador de Roma, pensando que com este último ato ele garantiria a segurança de seu reino e de sua família. O que acaba acontecendo é justamente o inverso: os romanos não aceitam as filhas de Prasutagus como legítimas para o trono e empreendem assassinatos e mortes no território dos icenos, destruindo terras, humilhando os senhores locais e até mesmo tratando os parentes do antigo rei como escravos. As duas filhas do rei são violentamente humilhadas através de estupros e a própria rainha Boudicca é torturada e castigada com chicotadas. Os icenos então se juntam sob a autoridade da rainha e se rebelam contra os romanos com o auxílio de algumas outras tribos. Os rebeldes, aproveitando-se da campanha do governador local, Suetonius Paulinus, em Gales, atacaram e destruíram Camulodunum, Verulamium e Londinium. É a própria Boudicca que também toma toda a liderança e decisões militares, comandando a rebelião, Boudicca montou em sua carruagem com suas filhas ao seu lado e passou em frente a todo o exército, incitando todos para lutarem pela última vitória: “Não é estranho para os britânicos serem liderados por uma mulher na guerra. Mas eu luto não como uma rainha de linhagem gloriosa para restituir meu reinado e poder, mas como uma simples mulher de um povo que perdeu sua liberdade como um escravo e viu suas filhas violadas em frente a seus olhos. Mas é isso que eu enquanto uma mulher desejo – que eles  (os romanos) vivam para eles mesmos serem escravos.

DEUSAS GAULESAS , GÁLICAS OU CELTA-LATINA, OU GALO-ROMANA – Na mitologia encontram-se diversas deusas, entre elas Cibele, bem como as Matres e Matronas.


CIBELE – deusa mãe dos deuses, deusa-mãe simbolizando a fertilidade da natureza. Ela tornou-se uma divindade do ciclo de vida-morte-renascimento ligada à ressureição do filho e amante Átis. Era representada, frequentemente, com uma coroa de muralhas, que simboliza o seu poder militar como protetora e, ao mesmo tempo, arrasadora de cidades, com leões por perto ou num carro puxado por esses animais e uma cornucópia, o corno (chifre) da abundância, referente a fertilidade e riqueza. Era chamada por Sófocles como a Mãe de Tudo. Cibele era a deusa dos mortos, da fertilidade, da vida selvagem, da agricultura e da Caçada Mística. É hoje representada como uma mulher madura, coroada de flores e espigas de cereais. Também vestida com uma túnica multicolorida e carregando um molho de chaves na mão. De acordo com a lenda, Cibele se apaixonou por Attis. Mas ele a traiu e sem perdão, a deusa o castigou deixando-o louco. Em uma de suas loucuras, Attis mutilou a si próprio sangrando até morrer. No entanto, Cibele ficou condoída com sua morte e resolveu transformá-lo num pinheiro e de seu sangue nasceram violetas. O culto de Cibele, chamada Mãe dos Deuses ou a Grande Mãe, estendeu-se das montanhas da Ásia Menor a todo o mundo grego e depois transbordou sobre o mundo romano, a ponto de fazer com que o Senado se decidisse a construir-lhe um templo sobre o Palatino. Este culto tomou relevo particular na Gália, ele teve seu centro em Syon mas se estendeu por todo o território. Ela encarnava a Terra Mãe, velha divindade cuja origem está cravada na pré-história e seu culto tinha seu colégio religioso, seus sacerdotes especiais, que lembravam muito a casta dos druidas.

ABNOBA – Abnoba, conhecida também como Devana, Dziewona, Dianae Abnobae, Danu ou Abnoba Caçadora, era a deusa da floresta negra, bem como do parto e dos rios, foi cultuada pelos celtas e romanos.

ANA – Deusa-mãe gaulesa, representando a mãe das deidades celtas e ao mesmo tempo a mãe dos seres humanos. É, também, a santa patrona do país celta da Bretanha.

BRIGIT – A deusa das estações do ano celebrada em fevereiro como dia do Imbolc, grande festa de purificação. Deusa tríplice venerada pelos poetas, ferreiros e médicos. Irmã do deus Oengus, divindade do amor.

EPONA – Deusa da fertilidade. Cavaleira ou amazona representada montada sobre um cavalo, diadema na cabeça. Seus atributos eram a cornucópia, uma pátera e frutos. Presidia, também, à fecundidade do solo, fertilizado pelas águas. Sãos as protetoras dos cavalos, burros e mulas.

Além destas encontram-se ainda, Ancamna, deusa galo-romana celebrada como a consorte de Marte Lenus, protetora tribal Ancasta, deusa cultuada na Britânia romana; Andrasta, deusa guerreira e também conhecida como rainha Budica, esposa do deus da guerra romano; e Ardunnna ou Arduina, deusa de Ardennes ou deusa gaulesa da lua, da caça e da justiça. Já as Matres e Matronas são deidades femininas veneradas e representadas em grupos de três, em regiões da Germânia, da Gália Oriental e da Itália superior.

AS CELEBRAÇÕES GÁLATAS, GÁLICAS OU GAULESAS – Ao contrário dos povos da antiguidade que já construíam grandes templos religiosos, os gauleses realizavam suas celebrações em altares nas florestas, comandados pelos druidas que serviam de conselheiros, médicos e juízes.

O DIADEMA DE VIX – Numa sala funerária repousava o corpo de uma jovem mulher, com o busto elevado e ornada por um admirável diadema de ouro com peso de 480 gramas de metal fino de 24 quilates. Uma das partes que compõem  o diadema envolve a cabeça sensivelmente semicircular, cujas extremidades representam patas de leão prendendo bolas ornamentadas por desenhos geométricos muito variados e de execução extremamente delicada. No interior da curvatura , atrás das patas de leão, o artista colocou um pequeno cavalo alado, um Pégaso. A morta havia sido enterrada em seus mais belos adornos e enfeitada com suas joias. No pescoço estava pendurado um colar de pérolas âmbar, de diorito e de serpentina. Cada pulso estava enfeitado com uma pulseira de perolas âmbar, enfiadas numa estreita lamina de bronze e três braceletes de xisto, uma argola de bronze circundando cada tornozelo. Na altura da bacia do esqueleto jazia um colar de metal gaulês em bronze enrolado, enfeitado com uma correia de couro enrolada em espiral.

REFERÊNCIAS
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______. A Guerra Civil. São Paulo: Estação Liberdade, 1999.
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GEARY, Patrick. O mito das nações: a invenção do nacionalismo. São Paulo: Conrad, 2005.
GRIMAL, Pierre. A civilização romana. Lisboa: Edições 70, 1988.
JUBAINVILLE, H. D. Os druidas: os deuses celtas com formas de animais. São Paulo: Madras, 2003.
MORESCHINI, C.; NORELLI, E. Manual de literatura cristã antiga grega e latina. São Paulo: Santuário, 2005.
OLIVIERI, Filipo. O papel dos druidas na sociedade céltica na Gália os séculos II e I a. C. Niterói: UFF, 2008.
PEIXOTO, Pedro Vieira. A relação entre Roma e os celtas: um estudo inicial a partir dos relatos sobre as mulheres celtas. Revista eletrônica de Antiguidade, Ano II – Número IV, 2009.


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