quinta-feira, setembro 13, 2007
Imagem: Reclining Nude , de Giovanni Boldini [Pintor Italiano, 1842-1931 - Classicismo Academico]
"Vem, dama, vem que eu desafio a paz; até que eu lute, em luta o corpo jaz. Como o inimigo diante do inimigo, canso-me de esperar se nunca brigo. Solta esse cinto sideral que vela, céu cintilante, uma área ainda mais bela. Desata esse corpete constelado, feito para deter o olhar ousado. Entrega-te ao torpor que se derrama de ti a mim, dizendo: hora da cama. Tira o espartilho, quero descoberto o que ele guarda quieto, tão de perto. O corpo que de tuas saias sai é um campo em flor quando a sombra se esvai. Arranca essa grinalda armada e deixa que cresça o diadema da madeixa. Tira os sapatos e entra sem receio nesse templo de amor que é o nosso leito. Os anjos mostram-se num branco véu aos homens. Tu, meu anjo, és como o Céu de Maomé. E se no branco têm contigo semelhança os espíritos, distingo: o que o meu Anjo branco põe não é o cabelo mas sim a carne em pé. Deixa que minha mão errante adentre. Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre. Minha América! Minha terra a vista, reino de paz, se um homem só a conquista, minha Mina preciosa, meu império, feliz de quem penetre o teu mistério! Liberto-me ficando teu escravo; onde cai minha mão, meu selo gravo. nudez total! Todo o prazer provém de um corpo (como a alma sem corpo) sem vestes. As jóias que a mulher ostenta são como as bolas de ouro de Atalanta: o olho do tolo que uma gema inflama ilude-se com ela e perde a dama. Como encadernação vistosa, feita para iletrados a mulher se enfeita; mas ela é um livro místico e somente a alguns (a que tal graça se consente) é dado lê-la. Eu sou um que sabe; como se diante da parteira, abre-te: atira, sim, o linho branco fora, nem penitência nem decência agora. Para ensinar-te eu me desnudo antes: a coberta de um homem te é bastante". (John Donne, poeta, prosador e clérigo ingles - 1572-1631-, Elegia: indo para o leito, traduzido por Augusto de Campos).
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