domingo, maio 04, 2014

O PAPEL DA SEXUALIDADE NO DESENVOLVIMENTO DA PESSOA, SEGUNDO FRANÇOISE DOLTO


 Paradise Lost (A expulsão de Adão e Eva do Jardim do Paraíso), óleo sobre tela por Alexandre Cabanel (1823-1889, France)

O PAPEL DA SEXUALIDADE NO DESENVOLVIMENTO DA PESSOA – No seu livro Psicanálise e Pediatria, a médica e pediatra francesa Françoise Dolto (1908-1988), entre outros tantos importantes assuntos, aborda o papel da sexualidade no desenvolvimento da pessoa, o sexo, a libido, o hedonismo, as fases de desenvolvimento dos instintos, a masturbação, complexo de castração, pulsões, instâncias da personalidade, o consciente e o inconsciente, recalques, resistências, pensamento, inteligência, sexualidade normal e perversa, as interdições e a masturbação. Destacamos algumas expressões da autora:

“[...] em cada idade, desde o nascimento à morte, não há pensamento, sentimento ou ato do individuo que não comporte em si a busca hedonista, isto é, uma pulsão libidinal. Não existe vida sã sem vida sexual sã e, inversamente, não há vida sexual sã num individuo doente ou neurótico. A saúde sexual não se mede pela atividade erótica fisiológica do individuo; esta constitui apenas um dos aspectos da sua vida sexual. O outro aspecto é o seu comportamento afetivo em face do objeto de amorosidade, o qual se traduz, na ausência desse objeto, pelos fantasmas em que ele intervém. Só o estudo desses fantasmas e do seu simbolismo permite conhecermos a idade afetiva do individuo e o modo de sexualidade que preside à sua atividade. Não existe atividade que não seja sustentada afetivamente pelos sentimentos, em relação com a finalidade consciente ou inconsciente dessa atividade. E o objetivo de toda educação (profilaxia dos distúrbios de comportamento), como de toda psicoterapia (cura dos distúrbios do comportamento), é a utilização da libido de individuo de maneira que ele se sinta feliz e que esse bem-estar subjetivo se harmonize com os dos outros e inclusive o promova, em vez de sustá-lo [...] é a energia libidinal derivada de seus fins sexuais, que anima todas as atividades do individuo”.

“[...] as pulsões e descargas libidinais só são intrinsecamente importantes em virtude dos afetos que elas engendram [...] Mas as pulsões instintivas da criança deparar-se-ão com obstáculos. Se esses obstáculos são consentâneos com a condição humana, tomada em sua mais ampla acepção, ou são levantados sem necessidade racional pelo meio familiar, cuja atitude decorre de uma ótica moralmente deformada, é algo de que a criança não está apta a aperceber-se. Ela se aperceberá um dia, na puberdade ou mais tarde, de que as suas veleidades de rever os valores elevados à categoria de dogmas pelo seu meio educacional e pelo seu próprio Superego criarão conflitos entre o seu senso moral e o seu Ego. Essa revisão de valores, na puberdade afetiva, é entretanto, indispensável. [...] É por isso que esses conflitos da adolescência, quer se passem na idade fisiológica ou mais tarde, se o individuo já é ligeiramente neurótico antes da puberdade, isto é, culpado de seus sobressaltos sexuais, poderá desencadear neuroses mais ou menos agudas [...]”.

“[...] Todos os que se ocupam de desordens do comportamento, de perturbações funcionais orgânicas, os educadores, os médicos, no verdadeiro sentido da palavra, devem ter noções sobre o papel da vida libidinal e saber que a educação da sexualidade é o fermento da adaptação do individuo na sociedade”.
Adan and Eve II, da pintora francesa Erika Meriaux.

FRANÇOISE DOLTO – A médica e pediatra francesa Françoise Dolto desde a infância manifestava seu interesse em tornar-se doutora da educação, observando os problemas das relações entre seus pais e filhos. Aos doze anos, com a morte da sua irmã Jacqueline, ouviu dos pais a preferência de que ela devia ter morrido no lugar da irmã, inclusive, os pais a responsabilizaram por não ter rezado o suficiente para salvá-la. Na adolescência, ela enfrentará as incompreensões de sua mãe, ao confessar suas inclinações pela arte de esculturas, desenhos e aquarelas. Foi então estudar Enfermaria, depois se matriculou na Faculdade de Medicina, tornando-se médica de família e pediatra. Rompeu com um noivado arranjado pelos pais, originando sintomas neuróticos e sentimento de culpa, o que a fez decidir por análise com René Lafargue. Defendeu sua tese em Medicina, sobre o tema das relações entre a psicanálise e a pediatria, em 1939, sendo admitida na Sociedade Psicanalítica de Paris. A partir de então, publicou diversos livros sobre a temática da psicanálise para crianças e adolescentes. Entre suas obras se encontram A Psicanálise do Evangelho, livro que se tornou polêmico e foi criticado por teólogos e psicanalistas, ao que ela retrucou: “Eu não poderia vislumbrar de ser psicanalista se eu não fosse crente. Casou-se em 1942 com o médico reumatologista Boris Ivanovitch Dolto, fundando o Colégio Francês de Ortopedia e Massagem. Trouxe à luz a castração simboligência, uma ideia acerca das marcas sancionadoras, que promoverá o aparecimento da alternativa para uma boa maternagem no esquema e imagem corporal da criança. Criou a Casa Verde em 1979 , em Paris, para abrigar crianças de até 3 anos de idade, acompanhadas pelos pais, na busca de evitar traumas na pré-escola. Conheceu Jacques Lacan em 1938 com quem ao longo de 40 anos passou a ser ambos considerados o casal parental influenciador das futuras gerações de psicanalistas franceses. Ela lutou pela causa da criança em rádio e televisão, até falecer em 1988.

REFERÊNCIA:
DOLTO, Françoise. Psicanálise e pediatria: as grandes noções da psicanálise. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1988.

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