sexta-feira, janeiro 22, 2010

ANA TERRA



Imagem: The Fisherman and the Siren, c.1856-58, do pintor e escultor do Romantismo Vitoriano inglês, Lord Frederic Leighton (1830-1896]

TÍMIDOS

ANA TERRA


Gosto dos homens tímidos. Aqueles que se atrapalham e aceleram quando deviam freiar. Que se surpreendem falando mais do que deviam quando queriam calar. A voz sobe na tentativa de abafar o coração, batendo mais alto que devia. Aqueles que temem uma mulher porque sabem do que ela é capaz quando ela o deseja porque ele a deseja. Assim de rabo de olho, basta um faiscar.

Gosto desse jogo tímido onde os dois roubam e se fazem de desentendidos. Homens introvertidos que mandam bombom e poesia numa aparente cortesia. De amizade, de cavalheirismo, para não se comprometer. E desistem porque seria muito complicado e também nem tem tanta certeza assim de que é correspondido, ou quem sabe assustou a moça quando acelerou em vez de frear.

Gosto desses homens que tecem o tempo e aguardam o momento propício para jogar a isca outra vez. E dizem que te acham o máximo, especial, única. E dizem isso desviando os olhos, inventando metáforas, engolindo as sílabas. E eu preciso ser delicada, respeitar seu tempo, gerar confiança. Para que ele saiba que não sou uma louca, uma destruidora de lares, que não vou dar bandeira, atrapalhar sua vida.

E eu fico pensando como fazer isso sem parecer desinteresse. A alquimia certa, a hora certa. Enquanto espero meu corpo estremece pensando nele. Sei que um homem tímido custa a se entregar porque teme que eu seja um rio ou um mar traiçoeiro, com correntezas que o arrastem para longe da terra firme.

Uma mulher pode destruir um homem. Sei do que são capazes. Querem transformá-lo no que ele não é. Cobram do tímido que não o seja. Que seja atirado, falante, ousado. Estão presas ao senso comum. Não suportam seus silêncios e quietude. Seus avanços e recuos. Sua vasta e intensa vida interior. Sua vontade de ficar em casa viajando pra dentro.

Mas aos poucos ele mergulha, bóia, mergulha outra vez. E sente que eu o acolho, refresco, o faço mais leve. Que sou a água que deve ser uma mulher. Para matar sua sede, lavar suas feridas, limpar as sujeiras do mundo. Água de mar para temperar. Água de rio para adoçar.

E um dia ele se entrega sem resistência: sou todo seu. Com a coragem e a confiança que só os tímidos tem. Deus me faça capaz de merecê-lo. Porque é o melhor amor do mundo.

Sábado, dia das águas, 09 de janeiro de 2010. Ana Terra

ANA TERRA - A poeta, escritora, compositora e produtora musical e audiovisual carioca, Ana Terra, é autora de livros, espetáculos, composições musicais e espetáculos. Confira a entrevista dela no Guia de Poesia.


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